Um estudo concluiu que a quantidade de metais em plásticos encontrados no litoral de São Paulo é inofensiva para a biota da região. Em contrapartida, a presença abundante do material nas praias do estado e seus efeitos se mostraram prejudiciais ao equilíbrio natural das espécies do meio, segundo a aluna de mestrado Marcela Correa Vedolin, responsável pela pesquisa.
Os resultados foram obtidos a partir da análise de 300 pellets, pequenos grânulos de plásticos variáveis que servem como matéria prima para indústrias na fabricação de peças plásticas maiores. O material foi colhido pela pesquisadora em 19 praias paulistanas, todas no litoral e mais ou menos equidistantes entre si, a fim de se obter um panorama geral da região.
Depois de lavados na água do mar, peneirados e secos ao ar livre, para retirar resíduos arenosos do objeto de análise, os pellets foram tratados com substâncias líquidas não-metálicas e transformados em soluções. Esse procedimento, intitulado digestão parcial, serve como preparação para a entrada do material em um aparelho que fornece a concentração de metais em amostras líquidas a partir da emissão de radiação desses metais quando excitados por altas temperaturas, o ICP-OES.
Os dados fornecidos por essa técnica permitiram a Marcela analisar que, apesar de variar de acordo com a praia de que foram provenientes, os pellets apresentaram uma quantidade pequena de metais em sua composição. Ferro e alumínio exibiram maiores concentrações se comparados a outros elementos encontrados, como zinco, cobre e manganês, mas estas foram consideradas baixas para prejudicar um organismo em caso de assimilação desses grânulos, seja por ingestão, seja através das brânquias.
Para a pesquisadora, o estudo desmistificou a ideia de que os metais, através dos plásticos, sejam o problema da contaminação dos organismos na região. Segundo ela, a questão se coloca em um prejuízo já identificado por outras pesquisas do ramo.
“O problema é o plástico em si, como resíduo sólido, lixo. Peixes e aves ingerem esses grânulos ou qualquer tipo de plástico em meio ao sedimentos. Com o estômago cheio, eles têm uma sensação de saciedade e não comem mais. Eles morrem por inanição (falta de alimento) e isso afeta toda a cadeia [alimentar] marinha”, explicou Marcela.
Origem dos pellets
Não se tem conhecimento preciso da procedência dos pellets encontrados nas praias do litoral de São Paulo. A hipótese mais provável, segundo Marcela, é de que eles sejam perdidos durante o transporte para indústrias de outras regiões, tanto por terra quanto pelo mar.
No caso de tombamento de caminhões, esses grânulos se espalhariam pelas estradas, seriam levados aos rios pela água da chuva e desembocariam no mar, onde o movimento das águas faria com que terminassem nas praias. No caso de transporte marítimo, os acidentes se dariam pelo rompimento dos sacos plásticos em que os pellets são armazenados antes de serem depositados em containeres.
De acordo com Marcela, apesar de a perda de material pela maior empresa fabricante de pellets no país ser relativamente pequena - apenas 0,01% da produção total - a quantidade de grânulos depositados nas praias é alta para o ambiente. “Eles estimam que percam 50 mil grânulos anualmente. Para eles é muito pouco, para nós, não. É um problema químico e até estético”, salientou.