Diante das possibilidades de doação à Universidade do Uruguai, tombamento como patrimônio cultural e desmanche da embarcação Prof. W. Besnard, uma comissão foi mobilizada para conservar o acervo histórico no navio. Com um grupo responsável próprio, a causa em questão integra um projeto que visa recuperar a memória científica e tecnológica do Instituto e preservá-la para as gerações posteriores.
A comissão é presidida pelo professor Ilson Carlos Almeida da Silveira e composta pela professora Elisabete de Santis Braga da Graça Saraiva, pelo comandante do navio Alpha Crucius, doutor José Helvécio Morais de Rezende, e pelo responsável pelas embarcações do Instituto Oceanográfico (IO-USP), Mario Katsuragawa. Também integram a comissão as funcionárias Eloísa de Souza Maia, Monica Petti e Lourdes Bastianello, além da graduanda Vanessa Xavier.
A necessidade de se resguardar objetos históricos que estão no navio, tais como livros e instrumentos oceanográficos, fez com que a Comissão iniciasse uma catalogação do que deve ser trazido para o IO-USP e conservado de maneira adequada, mas ainda não há decisão de onde esses objetos ficarão definitivamente.
Segundo a bibliotecária Eloísa de Souza Maia, integrante da comissão, é preciso localizar esse acervo e garantir a sua catalogação. “Um navio desativado gera documentação ou objetos museológicos”, explicou. “Localizado, tentamos fazer uma conservação, listagem e sinalização do que é um acervo permanente histórico”.
Esse é o procedimento padrão também da Comissão de Preservação da Memória Histórica do IO, que se encarrega dos materiais que ficam dispersos pela unidade e não podem ser, atualmente, conservados nas condições mais adequadas de temperatura e armazanamento. “Algumas [peças] estão provisoriamente em algum serviço ou na reserva técnica do museu, as do navio estão no navio. O acervo histórico ainda está um pouco espalhado, mas a ideia é existir um catálogo que diga o que é e onde está cada peça”, expôs Eloísa.
De olho no futuro
Criada por iniciativa do professor Belmiro Mendes de Castro Filho, então diretor da unidade, e reformulada pela professora Elisabete de Santis Braga da Graça Sariava e pelo professor Michel Michaelovitch de Mahiques, a comissão responsável pelo resgate da memória do Instituto Oceanográfico completa dez anos em 2014. Castro Filho pretendia promover a preservação da memória científico-tecnológica do IO através de entrevistas com cientistas antigos e pioneiros que pudessem contar a sua história.
Hoje, a Comissão é presidida pela professora Elisabete de Santis Braga da Graça Saraiva, tendo como membros os professores Afrânio Rubens de Mesquita e Luiz Bruner de Miranda, além da bibliotecária Eloísa. As atividades recebem o auxílio do chefe do Museu, Sérgio Teixeira de Castro, e dos graduandos Thatiane Ferrinho (Oceanografia), Pedro Ferraro (História) e Vanessa Gonçalves (Biblioteconomia), todos bolsistas da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão.
Através de parcerias com a TV USP e a Companhia de História de Santos, foi possível levar ao ar as entrevistas realizadas com os professores do IO. Com a ajuda de especialistas em biblioteconomia, história, história horal e cinegrafia, o projeto cresceu e começou a se expandir para outras áreas. A Comissão passou a lidar com acervos históricos, tais como documentos audiovisuais e fotográficos, além de jornais e coleções de instrumentos oceanográficos que passaram por um processo de conservação para diminuir a velocidade de deterioração do material.
A recuperação da memória não se restringe apenas ao Instituto. Recentemente, as bases de Cananeia e Ubatuba também começaram a ser mobilizadas para preservar seu patrimônio cultural. “Eles [Ubatuba] mantiveram a documentação histórica da base. Nós estivemos lá, recolhemos esse material e poderemos, no ano que vem, contar um pouco sobre os 60 anos da base. A de Cananeia fará 65 anos e nós já estamos coletando depoimentos de funcionários na ativa ou aposentados”, contou Eloísa.
Outro avanço da Comissão foi iniciar a disponibilização do material para facilitar o seu acesso e difusão. No final de 2013, a chance de expô-los de maneira eficaz surgiu por ocasião da comemoração dos 80 anos da USP, quando o Museu de Ciências lançou a seção “Memória USP”, que, segundo Eloísa, abrirá espaços para exposições audiovisuais e disponibilização de documentos históricos.
A criação de uma página no Facebook e de um canal no Youtube, em conjunto com o Museu Oceanográfico, veio para completar o objetivo da Comissão, que vai além da mera recuperação do passado. “A intenção é fazer paralelos entre o passado e o presente para disponibilizá-los para o futuro. Esse é o objetivo da comissão de preservação da memória institucional”, expôs Eloísa.