Um estudo realizado com pinguins da espécie Spheniscus magellanicus constatou a presença de contaminates organoclorados (compostos com carbono e cloro) em aves de três países da América do Sul, oriundos da prática agrícola e industrial na região. Segundo a veterinária Paula Baldassin, responsável pela pesquisa, os índices de contaminação se mostraram abaixo de níveis considerados alarmantes, mas podem contribuir para o desenvolvimento de doenças nesses animais.
A coleta dos 116 pinguins, também chamados Pinguins-de-Magalhães, ocorreu em áreas de migração dessas aves, no Brasil e no Uruguai, e em áreas de colônia, no Chile. Como os contaminantes se concentram no tecido adiposo do animal, o procedimento padrão foi abrir os pinguins e retirar parte do fígado ou da glândula uropigiana, ambos ricos em gordura. As aves utilizadas já chegavam mortas aos pontos de coleta ou sucumbiam após várias tentativas de reabilitação.
A pesquisadora explicou que, quando encalham no litoral, os pinguins estão muito magros, hiportérmicos e anêmicos. “O contaminante costuma estar na gordura subcutânea, mas com o emagrecimento do animal, essa gordura é gasta e os contaminantes passam para o sangue, se alojando no fígado ou outras tecidos ricos em lipídios, como a glândula uropigiana”.
Através de técnica de separação e purificação de misturas, além de cromatografia, a gordura dos tecidos foi isolada dos contaminantes e eles foram quantificados. Foram encontrados vários compostos, mas dois deles, os PCBs (bifenilos policlorados, produto muito utilizado em capacitores nas indústrias) e os pesticidas (comuns em áreas agrícolas), apareceram em 100% das amostras, embora em níveis mais baixos do que seria considerado preocupante para a manutenção da espécie.
Como a pesquisa foi realizada durante quatro anos, ocorreu a comparação dos dados das amostras pra avaliar se os poluentes, uma vez detectados, estavam indicando tendências de aumento, manutenção ou redução de concentração nos pinguins. Segundo Paula, os PCBs, de 2008 a 2012, apresentaram um declínio, enquanto os pesticidas mantiveram estabilidade.
“Isso é um alerta, pois eles [os pesticidas] deveriam estar em declínio também. Nos níveis em que encontrei, esses compostos não causam diretamente a morte do pinguim, mas se o animal tiver predisposição a desenvolver tumores, eles vão facilitar. Esses contaminantes são potencializadores de tumores e patologias”, esclareceu a médica veterinária.
Em trabalho publicado em 2012, na Marine Pollution Bulletin, a pesquisadora uma correlação positiva entre a presença de um dos pesticidas, o HCB, e a falência vascular em 24 pinguins da espécie estudada. Porém, não foi possível relacionar os contaminantes diretamente à morte dos animais.
Os compostos, resultantes de diversas atividades agrícolas e industriais, chegam ao mar e entram na cadeia trófica através do alimento. Paula indicou que esse tipo de contaminação é muito prejudicial ao ambiente, pois os poluentes se bioacumulam e biomagnificam (acúmulo de substâncias nos níveis tróficos da cadeia) nos seres vivos, permanecendo ativos mesmo muito tempo depois de serem descartados.
Além de ser danosa aos ecossistemas marinhos, a pesquisadora ainda chamou a atenção para outro revés consequente da contaminação. “O mesmo peixe que uma ave marinha come, nós comemos. Se elas estão contaminadas, nós também podemos ficar”, alertou.
A pesquisas da tese de doutorado de Paula Baldassin foram financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).