ISSN 2359-5191

12/09/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 58 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Contaminação por metais afeta biodiversidade estuarina de Cananeia
Toxicidade de sedimentos prejudica desenvolvimento de organismos em pontos do canal Cananeia-Iguape. Poluentes seriam oriundos de antiga atividade metalúrgica na região

Um estudo dos sedimentos do complexo estuarino de Cananeia-Iguape constatou que os organismos do sistema estão suscetíveis à contaminação por metais. Através de testes toxicológicos com amostras e análises de bioacumulação, os resultados indicaram que os poluentes podem causar prejuízo ao desenvolvimento dos seres vivos e aumentar a taxa de mortalidade dos mesmos na região.

As pesquisas, iniciadas em 2012 pela aluna de mestrado Ana Carolina Feitosa Cruz, contaram com a coleta de sedimentos em seis pontos diferentes ao longo do estuário. Segundo a pesquisadora, os pontos mais contaminados do canal estavam nas proximidades do rio Ribeira, em Iguape, por conta da poluição causada por empresas metalúrgicas no século passado. Atualmente, as indústrias estão fora de funcionamento, mas a contaminação permanece, alimentada também por outras atividades da região.

Mapa dos seis pontos onde foram coletados os sedimentos / Créditos: Ana Carolina Feitosa Cruz

O quadro vem como um alerta para as entidades gestoras do local, que consiste em uma área de preservação ambiental. A pesquisadora chamou a atenção para o fato de que ainda há fontes ativas de contaminantes, como esgotos sem tratamento e embarcações, e ressaltou que deve existir um monitoramento dessas fontes para que a situação não piore.

“As comunidades da região têm a economia baseada em pesca, turismo e extração de outros materiais. É importante que exista uma atenção especial pra região e um controle dessas atividades”, acrescentou.

O estudo, uma avaliação ambiental do estuário, foi desenvolvido em três etapas.

Constatação da contaminação

Depois de coletadas, as amostras de sedimentos foram levadas para o laboratório e iniciaram-se os testes de toxicidade. Três tipos diferentes de organismos foram colocados, separadamente, em contato com as amostras de cada um dos pontos do estuário, a fim de se descobrir se elas seriam prejudiciais aos indivíduos, e, em caso positivo, quais delas trariam os piores efeitos.

“Esses organismos são próprios para a realização desses testes. São típicos de regiões estuarinas e não são nem muito sensíveis, nem muito resistentes [às condições do ambiente]. Eles dão a real situação da região”, explicou a pesquisadora.

Os dois primeiros testes foram realizados com fêmeas ovadas de copépodas (um crustáceo), para observar a reprodução, e com ovos de ouriço, para observar o comportamento das larvas. Chamados testes crônicos, os resultados indicaram que as amostras das áreas próximas ao município de Iguape foram os que mais prejudicaram o desenvolvimento dos organismos.

O último teste, chamado agudo, tinha por objetivo obter resultados imediatos de mortalidade de indivíduos em contato com os sedimentos. Realizado com anfípodas (tipo de crustáceo), os resultados foram semelhantes aos das avaliações anteriores, apontando para maior toxicidade nas proximidades de Iguape.

É importante ressaltar, porém, que não há uma diminuição gradativa da toxicidade dos sedimentos com a aproximação da cidade de Cananeia, pois outros fatores interferem no equilíbrio ambiental de cada ponto estudado. “Os pontos de contaminação estão também nas áreas com menor tamanho do grão de sedimento e maior quantidade de matéria orgânica”, explicou a oceanógrafa.

Com isso, foi constatada a contaminação e quais pontos do estuário estavam mais comprometidos.

Identificação da fonte tóxica

O próximo passo da pesquisa de Ana Carolina foi descobrir quais elementos estavam tornando os sedimentos tóxicos aos seres vivos do canal. Para isso, foram realizadas três reações diferentes com as amostras, a fim de se retirar delas os compostos potencialmente prejudiciais aos organismos.

Através da primeira reação, extraiu-se os elementos metálicos dos sedimentos. Na segunda, foram retirados os compostos orgânicos, e na terceira, a amônia. Após cada reação, as amostras eram colocadas novamente em contato com os copépodas, com um intuito de observar se a toxicidade dos sedimentos diminuíam ou não com a retirada dos componentes.

Essa diminuição foi observada com a extração dos metais, o que não ocorreu no caso dos compostos orgânicos e da amônia. Essa última, porém, apresentou um comportamento diferenciado na presença dos metais. “A amônia é um composto natural do ambiente. É comum encontrarmos níveis mais altos em regiões estuarinas. Ela não é tóxica, mas potencializa o poder de contaminação do metal”, explicou Ana Carolina.

Logo, constatou-se que a maior fonte de contaminação na região eram os metais.

Biodisponibilidade de poluentes

A terceira etapa da pesquisa foi avaliar se os metais estavam biodisponíveis ao ambiente, ou seja, se podiam se concentrar nos tecidos dos organismos da região. Foram coletados moluscos bivalves em áreas não-contaminadas de Cananeia para servirem como cobaias.

Quando colocados em contato com as amostras de sedimentos em laboratório, esses moluscos se mostraram suscetíveis à bioacumulação. A hipótese foi, portanto, confirmada, indicando mais um dano provocado pelos poluentes.


As pesquisas de Ana Carolina Feitosa Cruz foram financiadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e integram um projeto que visa monitorar a qualidade ambiental da região de Cananeia e Iguape.


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