São Paulo (AUN - USP) - Arroz preto, café descafeinado, abacaxi que não precisa ser descascado, tangerina sem semente, manga com caroço reduzido. Em um futuro próximo, esses produtos poderão ser encontrados nas prateleiras dos supermercados entre outros comuns graças às novas tecnologias. Aplicadas à produção de alimentos, elas permitirão que a agroindústria atenda aos mais exigentes paladares.
Os produtos especiais são novas descobertas obtidas com cruzamentos genéticos ou métodos avançados de biotecnologia para conseguir sementes de alta qualidade. “Eles procuram atingir principalmente os consumidores dos EUA e da Europa, que estão se sofisticando”, explica Orlando Melo de Castro, diretor-geral do IAC, instituto agrônomo do Estado de São Paulo.
Em cada cultura, as preferências por gosto, textura, acidez, cor e até mesmo formato dos alimentos variam. Para ter maior praticidade no transporte e armazenamento, os japoneses criaram a melancia quadrada, por exemplo. Tomar um cafezinho à noite não atrapalha mais o sono, porque já existem marcas com menos de 1% de cafeína. Mas o cheiro e o gosto do original, a ciência ainda não conseguiu imitar.
Quem pensa que essa tecnologia é coisa só de primeiro mundo está enganado. O Brasil é o maior produtor agrícola dos trópicos e desenvolve uma pesquisa bastante avançada. No IAC, uma nova variação de abacaxi está sendo estudada. A diferença desse para os outros é que ele possui uma série de gomos que podem ser destacados. “Descascar o abacaxi” pode cair em desuso.
Resta saber se algum dia esses alimentos serão comuns nas mesas brasileiras. A maioria ainda está em processo de pesquisa, mas os que já chegaram ao mercado estão muito distantes dos bolsos da maior parte da população do país.
Impactos econômicos e sociais
Os investimentos em nichos de mercado (mercados extremamente reduzidos, mas que garantem um bom retorno financeiro) crescem a cada dia. Mas produtos tradicionais, como a cana, a soja e o algodão, também estão sendo beneficiados com a biotecnologia. As pesquisas conseguiram aumentos significativos de produtividade. Os avanços científicos permitem que os agricultores plantem produtos mais resistentes a pragas e doenças e adaptados a solos de menor fertilidade. Além disso, ampliam as épocas de oferta.
As vantagens econômicas desses produtos para os agricultores são evidentes, principalmente para aqueles que investirem em bioenergia. “Girassol, mamona e amendoim vão ser a coqueluche em São Paulo”, acrescenta o diretor do IAC. Outro mercado em ascensão é o de fármacos e cosméticos a partir da biodiversidade, da qual o Brasil tem bastante a oferecer.
A biotecnologia fará parte do futuro. Aliá, já é parte do presente. Mas há riscos que precisam ser calculados. Não há como prever se os produtos especiais serão bem aceitos na sociedade e quantas pessoas no mundo terão acesso a essa tecnologia. Produtos como o milho, no entanto, podem ter um forte impacto social, afirma Orlando Melo de Castro, porque eles são a base da alimentação de aves e suínos. Um aumento na produtividade do milho possibilita a queda do seu preço e, conseqüentemente, dessas carnes.
Colaborou Florian Plaucheur