São Paulo (AUN - USP) - Quando uma criança nasce prematuramente, muitas vezes seu sistema respiratório não está completamente formado, por isso é necessário que ela receba uma substância que existe naturalmente em pulmões perfeitos: o surfactante pulmonar. No mundo já existem laboratórios que comercializam esse produto, obtido de pulmões bovinos ou suínos. No entanto, por serem importados, esses medicamentos têm custo extremamente alto no Brasil, variando de R$ 1000 a R$ 2000 dependendo da quantidade e do fabricante. Agora, o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan começará a produzir o surfactante de origem suína em escala industrial.
Ainda no mês de abril será inaugurada uma planta industrial para produção do medicamento, o que permitirá uma produção de mais de 50 mil doses por ano. Segundo Flávia Kubrusly, pesquisadora do Centro, será possível vender o surfactante por cerca de R$ 300, possibilitando que o Ministério da Saúde compre mais doses do que faz atualmente e estabelecendo concorrência com os laboratórios estrangeiros, forçando-os a baixar os preços.
A pesquisa sobre surfactante pulmonar é desenvolvida no Butantan desde 1997. Os primeiros estudos clínicos começaram há dois anos, numa parceria com mais de 30 instituições de saúde distribuídas pelo país, e estão em andamento. Até o segundo semestre de 2007, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deve liberar o medicamento, permitindo que ele chegue a qualquer hospital público do país.
A produção em larga escala será beneficiada pela parceria entre o Butantan e a Sadia, empresa do setor alimentício, que fornecerá gratuitamente os pulmões suínos necessários para a produção do surfactante.
Sistema incompleto
O surfactante é uma substância natural presente em todas as espécies que respiram através de pulmões. Ele tem como função controlar a tensão superficial entre o líquido do alvéolo (menor unidade funcional do pulmão, espécie de bolsa que infla e murcha com a entrada e saída do ar) e o ar. Sem o surfactante, essa tensão seria muito alta, ocasionando o rompimento das estruturas pulmonares. Além disso, o surfactante também atua no sistema imune inato, ou seja, que acompanha a pessoa desde o nascimento.
Como o sistema respiratório é o último que se forma no desenvolvimento do feto, bebês que nascem com menos de oito meses de gestação não possuem a quantidade suficiente de surfactante, o que ocasiona grande dificuldade para respirar.