São Paulo (AUN - USP) - O Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan está desenvolvendo um novo tipo de vacina anti-pneumonia numa parceria com Children´s Hospital of Harvard. Há seis anos o Centro de Biotecnologia já pesquisa maneiras de imunização contra o pneumococo, bactéria causadora da pneumonia. Mas há dois anos foi procurado pela instituição americana para pesquisar um método diferente de obtenção da vacina.
Antes de firmar esse acordo com o Children´s Hospital, a vacina era desenvolvida através da combinação de derivados protéicos com polissacarídeos (cadeias de carboidratos) da cápsula que envolve a bactéria. Essa vacina é chamada conjugada, por unir elementos bacterianos da cápsula a proteínas externas à bactéria.
Na nova pesquisa, não se utiliza a cápsula polissacarídica, que é eliminada, restando apenas a estrutura interna da bactéria. A partir disso, ocorre a inativação bacteriana, e, em seguida, a aplicação no organismo a ser imunizado.
A vacina proposta pelo Children´s Hospital of Harvard, pretende eliminar a cápsula polissacarídica, e agir através da bactéria inteira, porém inativa patologicamente. Segundo Luciana Cerqueira Leite, pesquisadora do Centro de Biotecnologia, essa nova metodologia promete bons resultados, mas ainda está longe de ser produzida em escala industrial. “O risco é maior do que na vacina conjugada, que já tem vários tipos cujo bom funcionamento é conhecido. Mas se ela funcionar vai ser extremamente útil”, diz ela se referindo à maior aplicabilidade dessa nova técnica a diferentes sorotipos da bactéria quando comparada à vacina conjugada.
O Children´s Hospital já havia feito estudos pré-clínicos, estágio em que se utilizam cobaias animais, quando contatou o Instituto Butantan. Isso porque o hospital americano não possui estrutura para pesquisa em maior escala e posterior produção industrial.
Até o final de 2008 devem começar os primeiros estudos clínicos, envolvendo testes com humanos. Depois é necessário a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e só então a distribuição em escala comercial, o que, segundo Lucina Leite, não deve ocorrer antes de 2010.
Para o desenvolvimento dessa vacina, o Butantan receberá 750 mil dólares do PATH, organização não-governamental norte-americana, repassados através do Children´s Hospital.
Histórico
A fabricação de vacinas anti-pneumococo utilizando as estruturas polissacarídicas da cápsula bacteriana não-conjugadas com proteínas já ocorre há mais de uma década. Essa vacina é 23-valente, ou seja, imuniza o indivíduo contra 23 dos 90 sorotipos conhecidos de pneumococo. A imunização já garante proteção contra os sorotipos que mais afetam o homem. A vacina é produzida pelos laboratórios Aventis Pasteur, da França, e Merck Sharp & Dhome, americano.
Já a vacina anti-pneumococo conjugada, objeto de estudo do Butantan há seis anos, é 7-valente, de modo que seu efeito imunizante atinge menos sorotipos do que a vacina não-conjugada. A vantagem deste tipo de vacina é que ela pode ser aplicada em crianças com menos de 2 anos, o que não ocorre com o primeiro tipo. Atualmente ela é comercializada pela americana Wyeth.