ISSN 2359-5191

18/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 15 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Monitoramento revela presença de poluentes no organismo de aves marinhas
Pesquisa foca no estudo da presença de contaminantes químicos no organismo de animais do topo da cadeia alimentar em ilhas oceânicas brasileiras
Aves marinhas. Fonte: Reprodução internet

Em pesquisa do Instituto Oceanográfico da USP (IO), a presença e monitoramento de poluentes no organismo de aves que ocupam o topo da cadeia alimentar em ambientes remotos ganhou destaque. O pesquisador Patrick Simões Dias se dedicou a acompanhar a a existência de componentes químicos, os chamados Poluentes Orgânicos Persistentes (POCs), em aves marinhas de algumas ilhas brasileiras para entender como e se esses poluentes chegam a regiões mais isoladas, como eles se distribuem ao longo da cadeia trófica e compreender como os hábitos de vida desses animais influencia no perfil bioacumulativo dos poluentes.

Patrick ressalta que a partir dessas análises seria possível, de modo geral, conhecer e prever como os contaminantes podem se distribuir e dispersar ao longo dos territórios, “mesmo em regiões onde não existe influência ou aporte direto desses tipos de poluentes”, explica o pesquisador. De acordo com o levantado, as áreas estudadas despertam um grande interesse em termos econômicos e ambientais para o país. Patrick ressalta que são áreas que possuem um grande potencial de recursos pesqueiros, minerais, tecnológicos e estratégicos para o Brasil, portanto, a compreensão dos fenômenos que podem estar impactando ou que podem potencialmente impactar a biodiversidade dessas regiões é de extrema importância para a ideal gerência pelo país.

O estudo foi realizado através de análises químicas dos POPs encontrados no fígado de cinco aves marítimas típicas de ilhas oceânicas brasileiras, encontradas mortas nas ilhas do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz e na Reserva Biológica do Atol das Rocas. A partir desse processo foi feita uma observação de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio, que também evidenciou hábitos migratórios e de alimentação dessas aves.

As análises químicas ocorreram através de cromatografia em fase gasosa, o que permite verificar mais de 70 compostos químicos. A análise dos isótopos estáveis de Carbono e Nitrogênio foi realizada através de um analisador elemental, que consegue dizer com muita precisão qual a proporção entre os isótopos 12 e 13 para o Carbono e entre os isótopos 14 e 15 para o Nitrogênio, informação essencial para a compreensão dos fenômenos de distribuição e transferência dos contaminantes no corpo dos organismos e ao longo da cadeia alimentar onde ele está inserido, aponta o pesquisador.

O estudo de Patrick conseguiu identificar uma série de substâncias nocivas, inclusive algumas que já não são produzidas há mais de 30 anos. Alguns compostos do Hemisfério Norte e estão chegando às regiões bem isoladas. O pesquisador também notou que as aves com maior nível trófico apresentaram maiores valores de concentração de contaminantes, assim como a presença dos contaminantes de maior massa molar, que, de forma geral, também possuem maior potencial toxicológico. Patrick diz que “os níveis encontrados são comparativamente bem baixos e podem não ser nenhum problema grave ou agudo”, mas esses compostos, uma vez no organismo dos seres vivos, dificilmente serão excretados e a tendência é que se acumulem ao longo dos anos, podendo causar alguns efeitos crônicos de má formação embrionária a até morte por efeitos cancerígenos.

Pensando de modo populacional, a longo prazo, esses poluentes podem causar um desequilíbrio no número de indivíduos dentro de uma população específica de seres vivos. “É, portanto, mais que necessário continuarmos monitorando a presença dessas substâncias, assim como ampliar os estudos para monitorar qualquer variação na quantidade de indivíduos dessas colônias, assim como monitorar outros efeitos que possam ocorrer”.

A observação de qualquer efeito relacionado à presença dos POPs nesses organismos também pode servir como uma espécie de “termômetro” ecológico do ecossistema local, já que qualquer efeito nocivo observado nos animais de topo de cadeia pode ser um indicativo de um efeito generalizado ao longo de toda cadeia trófica.

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