A partir da assinatura do acordo de cooperação entre Brasil e Japão, envolvendo várias universidades e agências dos dois países, nasceu o projeto Iata-Piuana, que significa ‘mergulhando em águas profundas e escuras’, na língua tupi. O projeto trouxe para o Brasil o navio Yokosuka e o submersível Shinkai 6500, que permitiu estudar áreas até então desconhecidas no Atlântico Sudeste.
Em um dos mergulhos feitos com o submersível, na área Dorsal de São Paulo, foi encontrada uma carcaça de baleia a mais de 4 mil metros de profundidade. Diante da descoberta, o pesquisador Joan Manel Afaro Lucas, do Instituto Oceanográfico (IO), se dedicou a estudar a composição da fauna e a estrutura das comunidades que viviam nessa região.
O esqueleto descoberto é o primeiro do Atlântico profundo e é o mais submerso de acordo com as descrições até hoje feitas. As carcaças da baleia formam comunidades únicas e com organismos especiais que só habitam essas regiões. “Esta descoberta foi de altíssima relevância, pois quase tudo o que se sabe destas comunidades tem se descrito no Pacifico nordeste”, diz Joan.
O pesquisador estudou detalhadamente toda a comunidade, incluindo esqueleto da baleia e área envolvida. Ele conta que, através de câmeras de alta qualidade, braços mecânicos e sugadores, conseguiu realizar o detalhamento de todo o local. Joan identificou 41 espécies de organismos novos, com várias espécies já descritas em esqueletos do Atlântico Norte, em áreas mais rasas, e no Pacífico profundo. Doze por cento das espécies registradas eram de gêneros antes registrados apenas no Pacífico Norte. A presença de tais espécies no Atlântico Sudoeste demonstrou uma distribuição inter-bacia, em diferentes bacias oceânicas, ajudando a base de dados dos limites batimétricos e de distribuição. “Isto demonstra que algumas espécies da comunidade têm uma distribuição cosmopolita” o que indicaria que teriam evoluído se dispersando e colonizando várias bacias oceânicas no mar profundo utilizando carapaças de outros animais, comenta Joan.
Uma das espécies identificadas no estudo foi um verme do gênero Osedax, mais conhecidos como vermes zumbis ou devoradores de ossos. Ele não se movimenta e vive acoplado à matriz dos esqueletos, alimentando-se dissolvendo a matriz óssea através de uma estrutura que possui bombas de prótons que acidificam os ossos e os dissolvem. Este registro foi o primeiro da espécie no Alântico Sul.
Os estudos também revelaram a existência de um gastrópoda do gênero Rubyspira. Esse ser vivo também se alimenta através da degradação dos ossos, porém, nesse caso, o Rubyspira não acidifica o meio nem possui simbiontes. Esses organismos possuem uma râdula, que raspa as matrizes ósseas e depois as digere. Anteriormente, esses animais foram descritos apenas no Canyon de Monterey, na califórnia.