São Paulo (AUN - USP) - Foi inaugurada nesta quinta-feira, 26, no Instituto Butantan, a primeira fábrica de vacina para gripe comum e para gripe aviária do hemisfério sul. A construção dessa fábrica, que terá capacidade de produzir 80 milhões de doses por semestre, começou há quatro anos e é resultado de uma PPP (parceria público-privada) entre o Butantan e o Grupo Sanofi-Aventis. Foram investidos R$ 70 milhões no projeto, divididos igualmente entre o Governo do Estado e o Ministério da Saúde.
A produção nacional da vacina contra gripe comum permitirá uma economia anual de R$ 100 milhões para os cofres públicos, já que suprirá a demanda nacional, tornando desnecessário a importação da vacina. Segundo Isaías Raw, diretor da Fundação Butantan, a inauguração dessa fábrica é importante no sentido de desenvolver competência tecnológica no país. “O que falta hoje não é dinheiro. É massa cinzenta e iniciativa que faltam para desenvolver tecnologia no Brasil”, diz Isaías do alto de seus 80 anos.
Todos os anos 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos recebem gratuitamente a vacina contra gripe. Com a produção nacional, será possível fazer com que todas as crianças que ingressam na escola também tomem a vacina, assim, serão imunizadas as duas faixas etárias mais críticas: crianças e idosos. É possível até que a produção exceda a demanda nacional, permitindo a exportação da vacina.
Preparado para a pandemia
A mesma fábrica que produzirá a vacina contra gripe comum também está capacitada para fabricar a vacina contra o vírus H5N1, causador da gripe aviária. A doença já matou mais de 180 pessoas no mundo e contaminou mais de 300. A pandemia da gripe aviária é apenas uma possibilidade, e só acontecerá se o vírus sofrer uma mutação, tornando-se transmissível de pessoa para pessoa. Em todos os casos registrados até hoje, o vírus foi contraído diretamente de aves.
Mesmo não se tratando de uma certeza, o Instituto Butantan se adiantou a essa possibilidade com a construção da fábrica inaugurada ontem. Ela produzirá, a partir de 2008, 400 mil doses anuais, gerando um estoque que, na eventual pandemia, será capaz de atender não só a demanda brasileira, mas poderá também fornecer a vacina para os países em desenvolvimento. Todos os outros quatro locais no mundo onde se produz a vacina se localizam no hemisfério norte. Isaías Raw alerta para a importância estratégica da distribuição para outros países. “É melhor vacinar o vizinho, do que esperar para vacinar depois que o vírus já chegou ao Brasil”, diz ele.
Modelo de gestão pública
O governador de São Paulo, José Serra, também esteve presente na inauguração. Segundo ele, o Butantan é um “instituto modelar” que deveria servir de exemplo para todas as esferas da administração pública no Brasil. Depois de conhecer a fábrica ao lado do Ministro da Saúde, José Temporão, o governador participou da cerimônia oficial de inauguração, durante a qual Isaías Raw apresentou o plano quadrienal (2007-2010) do Butantan.
O plano contempla mais de dez lançamentos de vacinas e medicamentos: vacina da maternidade (contra tuberculose e hepatite); vacina anti-rábica; DTP (difteria, tétano e coqueluche); rotavírus pentavalente; hepatite B para idosos e hepatite B conjugada com DTP; vacina contra Necator americanus , verme causador da ancilostomose, popular “amarelão”; vacina tetravalente contra dengue; vacina contra pneumonia; surfactante pulmonar (remédio para impedir que recém-nascidos prematuros morram de insuficiência respiratória) e a toxina botulínica (utilizada em doenças neurológicas e para a produção de soro).