O projeto Biota/Fapesp Araçá tem como objetivo estudar processos físicos, biológicos e sociais que se estabelecem na Baía do Araçá (São Sebastião, SP) para mostrar à sociedade a importância dessa região costeira. A pesquisa de mestrado da pesquisadora Marina Brenha-Nunes do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, sob orientação da professora Carmen Wongtschowski e colaboração do pesquisador Riguel Contente, está inserida em um dos módulos do projeto responsável pelo estudo dos animais da coluna d’água. Marina se dedicou a estudar poças de maré, que se formam entre as rochas e os sedimentos quando a maré está baixa.
A pesquisadora explica que foram identificados dois tipos de poças de maré na região do Araçá: as rochosas, que se formam sobre as rochas na costa, e as arenosas, que se formam sobre a areia nas praias. Ela diz que encontrou diversos estudos sobre as poças rochosas, porém pouquíssimos estudos sobre as arenosas, e nenhum no Brasil. Diante disso, decidiu estudar as poças arenosas e compará-las, em relação aos peixes que ali vivem e às variáveis que influenciam em sua distribuição, com as rochosas.
Métodos
Marina conta que, devido à falta de estudos sobre as poças arenosas, não havia um protocolo que determinasse a forma como as pesquisas nesse ambiente deveriam ser conduzidas. Portanto ela e sua equipe se encarregaram de determinar esse protocolo de amostragem. Para isso, eles mediram a área e a profundidade das poças e algumas outras variáveis ambientais, e então se dedicaram ao que ela chama de “busca ativa de peixes”.
Os peixes eram capturados um a um embaixo de pedras ou objetos encontrados nas poças. Nas poças menores, eles utilizaram uma solução de eugenol, óleo natural do cravo que serve de anestésico para peixes para capturar mais exemplares. As poças maiores eram divididas em dois ou três setores nos quais a equipe utilizava uma rede construída por eles no próprio IO para capturar os peixes pequenos que vivem no local. A pesquisadora explica que a captura foi feita de acordo com a aprovação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Comissão de Ética do IO, e conta que o método se mostrou efetivo, pois foi capaz de criar uma amostra de 87% das espécies de peixes do ambiente, o que indica que pode ser usado como modelo para estudos futuros sobre poças arenosas.
Descobertas
O estudo revelou que realmente existem diferenças entre as espécies que habitam poças de maré rochosas e arenosas. Marina explica que os peixes das poças rochosas se entocam nas pedras (têm hábitos crípticos): “Essas espécies são adaptadas para suportar grandes diferenças de temperatura e salinidade, porque essas rochas ficam expostas ao sol até o próximo pico da maré alta, sobe a temperatura e a salinidade, diminui o oxigênio, então elas têm que ter uma adaptação a condições extremas”.
Eles observaram, entretanto, que a maioria das espécies das poças arenosas não tinha essas adaptações, e que predominavam ali as larvas e os peixes juvenis, estágios iniciais da vida do animal. “Eles não chegavam na fase adulta nas poças, mas na maré alta os adultos estavam ali. Nós deduzimos que eles estão usufruindo da poça na primeira fase do ciclo de vida como um tipo de refúgio contra predadores”, Marina explica.
Importância do estudo
A pesquisa de Marina foi a primeira no Brasil a se dedicar ao estudo de poças arenosas e o primeiro trabalho a descrever o estágio inicial de vida dos peixes, as larvas, em poças de maré, verificando a importância desse meio para determinadas espécies. Assim, o estudo chama atenção para esses ambientes e, com o protocolo de amostragem proposto, pode abrir caminho para futuros estudos sobre o tema.
Em conjunto com outros do projeto Biota/Fapesp Araçá, o estudo de Marina mostra a importância da região para muitas espécies de animais e para as comunidades que vivem ali. Por ser importante para o desenvolvimento dos peixes, as poças também são essenciais para os pescadores que contribuem para a renda da região.