São Paulo (AUN - USP) - As conseqüências do aquecimento global já são bastante conhecidas por boa parte da população. A professora Rosane Gonçalves Ito, do Instituto de Oceanografia da USP (IO-USP), ajudou a aumentar esta lista na mesa-redonda que abriu a II Semana Temática de Oceanografia. Segundo ela, o aumento nos níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera pode deixar os oceanos mais ácidos.
A professora explica que cerca de metade do CO2 emitido no planeta é absorvida pelos oceanos, em um processo denominado bomba biológica. A combinação do gás carbônico com a água diminui o pH do sistema. Assim, quanto mais dióxido de carbono o mar absorve, mais ácido ele fica. Como o composto é mais solúvel a baixas temperaturas, isto deve acontecer primeiro nos pólos.
Além da morte de muitos seres marinhos, a acidez pode comprometer o próprio mecanismo que regula a distribuição dos elementos químicos nos oceanos. A casca dos pteropods, uma espécie de molusco, por exemplo, não resistiria a um menor pH das águas do mar. O problema fica ainda maior quando se sabe que estes animais são um importante transportador de CO2 a regiões mais profundas, o que comprometeria o processo da bomba biológica.
A mesa-redonda ainda contou com os professores Edmo José Campos, Yara Schaeffer Novelli e Silvia Helena de Mello e Sousa, todos do IO-USP. É unanimidade que os impactos do aquecimento global só diminuirão com a queda das taxas atuais de emissão do gás carbônico, considerado por um dos palestrantes “o grande vilão das mudanças climáticas”. Diminuir, no entanto, não é o mesmo que parar. Para Campos, devido ao desequilíbrio já provocado, ainda que o ser humano acabe magicamente com as transmissões do dióxido de carbono para a atmosfera, o nível do mar continuará subindo por décadas ou séculos.
Campos também explica que o oceano é “memória” e regulador do sistema climático. A redistribuição do calor pelas correntes marítimas é o principal mecanismo de regulação do clima. Segundo o professor, a energia solar que aquece o planeta é muito mais recebida perto da linha do Equador. As correntes transferem este calor para as outras regiões do globo. Sem isso, a vida não existiria nas latitudes mais extremas da Terra.
Apesar dos efeitos catastróficos do aquecimento global (como estiagens e secas, maior incidência de ciclones tropicais, salinização da água dos rios e o derretimento das calotas polares), a professora Yara afirma que “em Gaia (biosfera), independente da intensidade dos fenômenos, há perdedores e ganhadores. E a vida continua”. Campos acredita que os homens estão entre os ganhadores: “esta mudança global não será o fim da civilização humana. Nós vamos nos adaptar”.
Gerenciamento costeiro
O ciclo de debates continuou com os professores Paulo Fernando Garreta Harkot (Unimonte) e Antonio Carlos Robert Moraes (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) debatendo com Marta Emerich, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, sobre os problemas e perspectivas da exploração sustentável da área de costa do Brasil.
Apesar da falta de comunicação entre os próprios pesquisadores, denunciada por Harkot, “o gargalo na gestão de áreas costeiras está na questão política”, declarou Robert Moraes. Marta, por sua vez, deu ênfase às diferenças entre a lei e a prática nesta área.
A II Semana Temática de Oceanografia ocorre entre os dias 27 e 31 de agosto, no Instituto de Oceanografia da USP.