São Paulo (AUN - USP) - O arquipélago de Abrolhos situado no litoral leste do Brasil, no estado da Bahia, sofre com as repercussões da atividade no continente. Mesmo a 70 quilômetros da costa brasileira, as águas de rios cujos estuários se localizam na direção do arquipélago chegam até Abrolhos, ecoando no ecossistema local. O projeto Pró-Abrolhos, que agrega 14 instituições, inclusive o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), estuda como as águas provenientes do continente afetam, positiva ou negativamente, na constituição do ecossistema do arquipélago.
Um dos principais efeitos analisados é o das correntes marítimas que levam sedimentos da costa baiana até Abrolhos, região conhecida pelos corais – os principais afetados pelo processo, uma vez que, com excesso de sedimentos assentados, não conseguem captar a luz que chegaria até eles.
É sabido, segundo relato de Rubens Lopes, professor do IO e um dos pesquisadores da Pró-Abrolhos, que os sedimentos sofreram alteração na sua composição com a chegada da civilização à costa baiana, de forma que há, além conteúdo natural, material que surgiu em decorrência da ocupação do litoral baiano e do desmatamento da Mata Atlântica.
De uma maneira ou de outra, grande parte das alterações físico-químicas dos mares surge como efeito de atividades ocorridas no continente ou em terras em que o humano modificou para áreas de habitação ou extração por parte do homem. Seguindo esse raciocínio, o pesquisador ainda fala que “toda a poluição do mar vem do continente”.
Lopes ainda relatou que um dos métodos para descobrir se a sedimentação atualmente está em níveis excessivos ou então como sofreu com o fator antropogênico é o de paleonto-oceanografia: a partir de coleta do solo da região de corais, pode-se prever a quantidade de sedimento que a região recebia há milhares de anos e como esse valor se alterou com os tempos. Com esse resultado, o grupo de pesquisadores da Pró-Abrolhos poderia prever com mais exatidão tanto qual o papel desses sedimentos na formação biológica do ecossistema do arquipélago quanto os efeitos da ocupação humana da Bahia na região – a coleta de material já foi feita e deve ter sua análise concluída logo.
Desse ponto de vista, é possível pensar que o turismo em Abrolhos não seja um fator crítico para a manutenção do ecossistema. Por Lopes, “nós nem sabemos se [o turismo] é a principal fonte de impacto [para o ecossistema de Abrolhos], se é que ele causa algum”. De todo modo, carece-se estudo referente à decorrência do turismo na região, uma vez que há a possibilidade de a proximidade com a civilização afetar negativamente o parque. Sobre isso, Lopes afirma “você só pode afirmar que [o turismo] está causando impacto se tiver um dado concreto”.