São Paulo (AUN - USP) - O Papilomavírus Humano (HPV), que infecta a pele e as mucosas genitais e causa o câncer de colo de útero e os condilomas acuminados (verrugas na região genital), tem alta incidência em países em desenvolvimento como o Brasil. Ainda que a Agência de Vigilância Sanitária, a Anvisa, tenha recentemente aprovado a segunda vacina anti-HPV, do laboratório GlaxoSmithKline, poucas pessoas terão acesso à imunização. O valor de cada dose custa R$ 216,55 e, como são necessárias três doses, o preço chega a R$ 649,55 mais o custo da aplicação em clínicas privadas.
O professor e pesquisador do Instituto Butantan (IB), Paulo Lee Ho, oferece uma alternativa. O IB está desenvolvendo uma nova vacina que deve ter custo zero para a população. A vacina agirá contra os tipos mais prevalentes de HPV e justamente os que causam o câncer, o 16 e o 18, e terá caráter preventivo.
A vacina, assim como suas similares, é baseada na proteína L1, que forma uma estrutura quase idêntica ao do capsídeo viral. Ela possui a capacidade de se auto-arranjar em uma partícula semelhante ao vírus, recebendo o nome de VLP (Virus-Like Particle). Essa partícula induz a produção de grandes quantidades de anticorpos neutralizantes.
Ho explica que vacinas como as dos laboratórios Merck Sharp & Dohme e GlaxoSMithKline, que foram aprovadas pela Anvisa, têm um problema: o elevado custo das doses. O pesquisador afirma que, por esse motivo, “o impacto que elas têm na epidemiologia da doença em termos de saúde pública é zero”. Diz ainda que tais vacinas têm preços altos porque “é o preço de mercado que eles (os laboratórios) acham que devem cobrar. Eles não estão preocupados com saúde pública. Estão pensando em lucro e mercado”.
O pesquisador conta que o objetivo do IB, maior produtor de vacinas da América Latina, é quebrar a cadeia de transmissão do vírus e, para isso, é preciso que a maior parte da população de risco tenha acesso. No momento, alguns dos problemas que os pesquisadores enfrentam para poder concluir o projeto são a instabilidade das partículas e o processo produtivo, que será responsável pelo custo da vacina.
Como um dos objetivos do desenvolvimento da nova vacina é baixar o preço no mercado, é preciso produzir em grande escala. Ho conta que seu maior desafio é obter um clone produtor que seja estável e gere um mínimo de 50 cópias do gene L1 para garantir uma maior produção. No momento, os pesquisadores estão trabalhando com leveduras metilotróficas como Hansenula polymorpha e Pichia pastoris, a partir das quais é possível expressar uma maior quantidade da proteína L1 quando comparado ao dos outros sistemas usados pela Merck e GSK.
A nova vacina do IB tem previsão de cinco anos para ser levada à Anvisa e será disponibilizada para o sistema público de saúde. Da mesma forma como a tríplice viral e as vacinas contra a hepatite B, poderá ser tomada gratuitamente nos postos de saúde.