São Paulo (AUN - USP) - Falando sobre o tema “Oceanos, Florestas e o Clima Global”, Paulo Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coordenador do grupo de modelagem acoplada oceano-atmosfera do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE, fez um alerta a respeito do aquecimento global: “Vivemos uma das situações mais graves da História. Nós estamos próximos do fim da humanidade como a conhecemos hoje.”.
A palestra abriu o ciclo de seminários Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, parte da 2ª Semana do Meio Ambiente Butantan Eldorado que ocorreu recentemente. Ali, Paulo chamou a atenção para o efeito do aquecimento sobre os oceanos, tema ainda pouco explorado hoje, apesar de possuir uma influência decisiva sobre o clima de todo o planeta.
Segundo ele, os oceanos estão diminuindo sua capacidade de absorver gás carbônico, o que altera o modo como o planeta o armazena. Como conseqüência, as temperaturas chegam a ficar mais altas em muitos lugares, o que leva ao derretimento das geleiras. Só na Sibéria, uma área do tamanho do estado do Pará já derreteu; a espessura da placa de gelo da Groenlândia sofreu uma redução de 70 metros em apenas cinco anos; e, no total, um milhão de quilômetros quadrados de gelo evaporou neste verão. “O degelo está ocorrendo mais rápido do que qualquer cenário mais pessimista previu”, diz Paulo. O efeito disso no meio ambiente pode ser observado no aumento do poder de destruição dos furacões, maior freqüência de chuva de granizo e maior intensidade do fenômeno El Nino.
Foram apresentadas possíveis alternativas para o problema. O primeiro passo seria a redução do dano, com a diminuição das taxas de desmatamento na Amazônia, já que não é possível reverter o estrago que já foi feito. Segundo Paulo, o modelo tradicional de exploração da soja, madeira e pecuária não se sustenta. “Destrói-se muita coisa mais valiosa para se produzir algo de menor valor. A Amazônia possui muitas riquezas que só nós temos”, diz. Entre 2005 e 2007 o desmatamento caiu 60%, o que resultou num ganho de US$2,2 bilhões para o país. “O mercado mundial está pagando por isso”. Há um custo em se trabalhar para salvar as florestas, mas o custo de não se fazer nada é maior ainda.
As florestas têm um efeito estabilizador no clima, são um sumidouro de gás carbônico, um regulador térmico, devido à fotossíntese, e um modulador da variabilidade interanual do clima global.
Sua proposta é que o Brasil adote o Desmatamento Zero. “Significará crescimento de opções econômicas que nós poderemos explorar.”, diz. Isso não consiste em proibir de desmatar, o que seria inexeqüível, mas sim em uma mudança de conceito. É um novo modo de produção, visando aproveitar o que a floresta tem de melhor, causando o menor dano possível.
Ainda há tempo para evitar mudanças climáticas piores. O pesquisador destaca o papel da mídia, em especial a televisão, devido à sua grande influência, para a conscientização das pessoas. Segundo ele, a população em geral não tem noção da gravidade do problema ambiental e da necessidade de se fazer algo urgentemente.