São Paulo (AUN - USP) -O grupo EBX, do empresário Eike Batista, planeja construir um porto na região da Baixada Santista, em Peruíbe. O grande problema é que, teoricamente, a construção é ilegal: a área pretendida possui grandes trechos de Mata Atlântica, além de ser reserva indígena da tribo guarani Piaçaguera. E, para completar, a vida costeira e marinha da região ficará seriamente prejudicada. Plínio Mello, integrante da ong Mongue, ofereceu uma palestra na semana de Oceanografia na Universidade de São Paulo, com o tema centrado na construção do Porto. "A vocação daquela região é a conservação ambiental, para estudo e contenção da devastação ambiental. É assim que a gente enxerga Peruíbe", diz Plínio.
O projeto está previsto para ocupar 1 milhão de metros quadrados. Essa é a área ocupada historicamente pelos índios, e prevista e legalizada pela FUNAI desde 2002 como reserva. Além da área em terra, o porto ocuparia uma extensão do mar, onde haverá a construção de um berço de navios de grande porte. A região marinha escolhida apresenta seis metros de profundidade e será preciso dragar 14 metros de areia. O objetivo, além da construção, é a extração de urânio. Essas alterações mostram que os prejudicados não seriam apenas os índios: as alterações serão nocivas a toda a vida marinha da costa da cidade e várias espécies sofreriam com o porto. A costa também é local de aves imigratórias fazerem seus ninhos, e uma mudança drástica mudaria todo o curso desses animais.
As idéias de construção na área não param com o porto: o que está previsto é um parque industrial, chamado Complexo Industrial Taniguá, projetado para a instalação do porto, além de metalúrgicas, siderúrgicas, indústrias automobilísticas, de transformação de alimentos e inúmeras outras indústrias poluidoras. Pessoas favoráveis à construção afirmam que o Porto trará emprego e progresso para a região."Não é que a gente queira que não tenha indústria, que não tenha emprego, não é que a gente queira que as pessoas passem fome", defende-se Plínio, "Só queremos que seja estabelecido uma área razoável!". Além disso, Plínio cita que conservar o litoral também é algo extremamente lucrativo, principalmente no setor turístico.
A área desejada para o parque industrial é, realmente, gigante. Com cerca de 12 km, ocupa a estrada que liga Peruíbe a Itanhaém e chega a Santos, e é o último trecho no qual a serra do mar tem ligação com o mar.
Segundo a ONG Mongue, o empresário Eike Batista não tem uma ficha muito limpa quando se trata de meio ambiente. O milionário é recordista de multas por crimes ambientais, incluindo uso de carvão ilegal extraído com madeira nativa do Pantanal. Nesse novo projeto de construção do porto, uma idéia foi posta em prática para passar pelo problema da área indígena: a empresa ofereceu quatro salários mínimos, uma mitsubish e microônibus para os índios permitirem que a área seja usada. A proposta gerou discórdia e divisão na tribo, de acordo com Plínio.
O projeto de construção já foi apresentado à prefeitura de Peruíbe e ainda está em estudo.