São Paulo (AUN - USP) - Embora o cultivo de vieiras seja um dos setores em que a mariculura brasileira menos se destaca atualmente, as perspectivas para o cultivo desse molusco são animadoras. O Brasil está dentro de um seleto grupo de países produtores desse requintado molusco e seu cultivo promete elevar a economia da maricultura brasileira.
As vieiras são moluscos bivalves da família Pectinidae, de águas salgadas. São os moluscos mais caros que existem: vendidas a cerca de R$30 a dúzia. O preço da vieira é alto devido ao fato de ser um molusco consideravelmente raro, além de seu cultivo necessitar diversos cuidados que o cultivo de ostras não pede. Como exemplo, as vieiras devem sempre estar embaixo d’água e precisam ser escovadas, caso contrário grudam uma nas outras. Apesar dos cuidados, o alto preço e a fama de iguaria fazem o cultivo de vieiras ser uma prática lucrativa.
Na década de 80, o Brasil importou técnicas japonesas para o cultivo do molusco. Atualmente, o sistema adotado é um suspenso flutuante onde os animais são mantidos em gaiolas (lanternas japonesas). Essas gaiolas são uma espécie de “curral”, pois, diferentemente das ostras, as vieiras possuem a capacidade de pular e soltar jatos d’água, o que faria com que algumas fugissem do cultivo se este não tivesse essas gaiolas especiais. Nesses currais, as vieras são manejadas, limpas e selecionadas por tamanho. Ficam nas gaiolas por volta de 18 meses, até atingirem aproximadamente oito centímetros, tamanho ideal para o comércio.
Segundo Hélcio Marques, palestrante da Semana de Oceanografia da USP, pesquisador do Instituto de Pesca e especialista no cultivo de bivalves, devemos ter orgulho, pois apenas 15 países são produtores de vieiras. Entre esses, os que mais se destacam são a China e a França, onde a vieira é consumida em diversos pratos diferentes, desde sushis até com manteiga quente. Nos Estados Unidos, apenas uma parte da vieira é comida: o chamado “palmito”, um músculo adutor que prende o molusco na concha.
Hélcio explica que as larvas do molusco são chamadas de “sementes” pelos produtores e que há dois modos de se conseguir sementes de vieira: a captação natural e o cultivo em laboratório. Atualmente, o cultivo em laboratório vem sendo o mais utilizado, pois há poucas sementes desse molusco nos mares brasileiros e uma captura para fins comerciais acabaria com a presença das vieiras no país. O Brasil possui dois laboratórios que fornecem as sementes de vieiras, em Santa Catarina e em Angra dos Reis. As sementes estão custando R$200 o milheiro (mil larvas).
Há cerca de 16 espécies de vieiras no Brasil, entre as quais se destacam a “pata-de-leão” (Nodipecten nodosus) e a “ziz-zac” (Euvola ziczac) devido ao interesse econômico e maior tamanho. A pata-de-leão apresenta um grande potencial para ser cultivada e vem sendo alvo de estudo pela Universidade Federal de Santa Catarina desde 1990. Essa espécie atinge um grande tamanho e oferece uma boa viabilidade para as sementes de laboratório. Isso é muito importante, pois as populações naturais de pata-de-leão são escassas e não atendem a uma demanda comercial. Já a zic-zac foi muito comercializada durante as décadas de 70 e 80, sendo encontradas em águas profundas entre 20 a 50 metros. Sua pesca entrou em colapso na década de 80, quando a espécie correu risco de extinção. De acordo com Hélcio, a expansão da produção de vieiras no mundo só poderá crescer com o cultivo na mariculura, pois a pesca extrativa já encontrou seu limite.
As vieiras podem ser encontradas em alguns restaurantes requintados, atingindo altos preços e servidas como iguarias finas devido ao seu excelente sabor e belo aspecto visual. Em inglês as vieiras são conhecidas como scallops, em francês como coquille saint-jacques e em países de língua espanhola como ostiones, almejas, escalopas ou mesmo vieira.