São Paulo (AUN - USP) -Pesquisadores da USP e do Instituto Butantan estudam a teia de aranha a fim de descobrir como que microorganismos que seriam nocivos à vida não se desenvolvem ali. O projeto tornaria possível a criação de antibióticos mais eficientes que os convencionais, assim como a criação de substâncias que tenham por finalidade combater a ação de fungos e bactérias, como, por exemplo, os conservantes de alimentos.
A inspiração para o projeto, que é orientado pelo professor Pedro Ismael da Silva Junior, partiu da cultura indígena. Pois os índios utilizam a teia de aranha para a cicatrização de ferimentos e obtêm sucesso com isso. Em contrapartida existem populações brancas que usaram a teia de aranha para a cicatrização do cordão umbilical de recém-nascidos e isso não impediu que os bebês fossem infectados pelo tétano. Essa situação intrigante e, de certa forma, contraditória, estimulou os pesquisadores a estudarem a fundo a atividade antimicrobiana na teia de aranha.
Se não fosse sua atividade antimicrobiana, a teia de aranha seria um local adequado para o desenvolvimento de microorganismos como fungos e bactérias. Pois ali é onde ficam os cadáveres dos bichos capturados pelas aranhas e, ao contrário do que se possa esperar, esses corpos não entram em processo de decomposição.
Segunda a pesquisadora Shayne Pedrozo Bisetto, para analisar como que acontece essa atividade antimicrobiana, a teia é retirada da natureza e levada ao laboratório. Lá eles fazem uma limpeza no material recolhido para eliminar impurezas que possam vir a comprometer o estudo. A partir daí a substância que envolve o fio da teia é retirada e colocada num meio que têm condições favoráveis para o crescimento de microorganismos. Depois de 18 horas o meio apresenta o crescimento de microorganismos em toda sua área, com exceção das partes em que está a amostra do material recolhido da teia.
Uma vez comprovada a atividade antimicrobiana o próximo passo é identificar qual é exatamente a substância responsável por isso. Os cientistas procuram um tipo de peptídeo antimicrobiano, uma proteína que tem por finalidade matar microorganismos. A diferença desse peptídeo antimicrobiano em relação aos antibióticos convencionais é que ele ataca as bactérias sem que elas possam se tornar resistentes a ele. Isso acontece porque o peptídeo atinge os microorganismos em lugares que são fundamentais para a vida do microorganismo, como, por exemplo, a membrana. Isso torna impossível qualquer reação por parte das bactérias, que morrem.
Com a substância responsável pela atividade antimicrobiana identificada, a idéia é fazer o sequenciamento dos aminoácidos que a compõe. “A dificuldade maior é fazer este sequenciamento”, diz Shayne Bisetto. Ela explica que só depois do sequenciamento de aminoácidos realizado que é possível sintetizar esta substância em laboratório. Isso é fundamental para o sucesso do projeto, pois só assim será possível realizar testes em animais e dar continuidade no estudo.