ISSN 2359-5191

16/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 146 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Falta de organização faz Brasil não evoluir em pesquisas com cetáceos

São Paulo (AUN - USP) -A falta de organização das instituições de estudo de cetáceos faz com que o Brasil, apesar de todo o potencial natural, não evolua nas pesquisas com mamíferos marinhos. Existem alguns estudos que só podem ser feitos com o animal morto, como por exemplo, o estudo de crânio para diferenciação de espécies. “Para esse tipo de pesquisa, é necessário ir para a praia e pegar amostras, e o custo é bem alto para nossos padrões nacionais”, explica o biólogo especializado em cetáceos, Marcos Santos, do Laboratório de Biologia da Conservação de Cetáceos e palestrante da Semana de Oceanografia da USP.

Marcos conta que o Brasil começou as pesquisas com animais marinhos de maneira cultural e historicamente diferente dos demais países. E um dos costumes adquiridos nessas pesquisas que atrasam muito o desenvolvimento da informação é trabalhar com um animal inteiro. Se um pesquisador consegue um corpo de um golfinho para estudo, por exemplo, ele trabalhará com todo o corpo e não permitirá que outros pesquisadores peguem partes de sua amostra. Isso dificulta seriamente a evolução do desenvolvimento das pesquisas. “Se um pesquisador interessado em craniometria (um estudo no qual só precisará do crânio do animal) consegue um corpo inteiro, porque não ceder o estômago para outro pesquisador, as gônadas para um próximo e assim por diante?”, pergunta-se Marcos. Dessa forma, um corpo inteiro seria útil para diversos estudos, não ficando apenas para um pesquisador. Mas, no Brasil, não temos essa ligação e contato com outros institutos. Esse é o principal motivo da pesquisa ir tão lentamente.

Os Estados Unidos têm um sistema que o Brasil poderia adotar para unificar as pesquisas no país. Lá, há uma espécie de rede de contato sobre os encalhes de cetáceos nas praias. “O sistema deles é, sem dúvida, o melhor do mundo. Extremamente organizado”, conta Marcos. Esse sistema funciona com a participação de toda a equipe de estudiosos especializados em mamíferos marinhos do país, onde todos trabalham e participam de várias atividades unidas, numa espécie de redes com banco de dados disponível para todos os profissionais. Nesse banco, há o nome de todos os pesquisadores, sua instituição e o trabalho que ele faz. Logo, se for encontrado um golfinho morto em uma praia, independentemente de qual pesquisador o encontrou, haverá uma pesquisa sobre quais partes vão para cada instituição. “Por exemplo, se no banco de dados houver um pesquisador da Universidade do Sul da Flórida que trabalha com a anatomia do olho das baleias, todas as amostras de olho irão para a pesquisa dele, mesmo que não tenha sido ele a encontrar o animal”, explica Marcos. No caso de vários pesquisadores estudando a mesma parte do corpo, as amostras serão divididas, ora para uma instituição, ora para outra.Dessa forma, a informação evolui muito mais rápida e inteligentemente do que aqui.

Apesar de não termos muitas verbas voltadas para o estudo de cetáceos, sendo que um barco sai para estudar em alto-mar uma vez por ano (enquanto que nos EUA eles saem praticamente todos os dias), o Brasil tem um potencial gigantesco para estudar os mamíferos marinhos, devido à grande quantidade de espécies que circulam nossas áreas costeiras. Entre essas espécies, inclusive, temos os melhores indivíduos: os maiores golfinhos nariz-de-garrafa do mundo vivem em águas brasileiras. Segundo Marcos, se tivéssemos organização, nossa ciência marinha seria mil vezes mais avançada que a americana.

“A gente tem que mudar muita coisa no Brasil”, diz Marcos. E um dos atos iniciais é canalizar a verba e organizar o estudo. Para melhorar as pesquisas, deveríamos criar uma sociedade de especialistas, uma rede onde todos que tivessem informações e conhecimentos trocariam estudos e amostras. “Assim, ficaríamos sabendo, dentro dos cetáceos, quem é quem, onde estão, para onde vão. Desse jeito, as peças do quebra-cabeça começam a se montar”.

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