São Paulo (AUN - USP) - Poder ver o que acontece em nível microscópico sempre possibilitou grandes progressos científicos. As técnicas de microscopia permitem avanços tão distintos quanto observar moléculas movimentando-se em tempo real, compreender as etapas do desenvolvimento de um embrião ou estudar a evolução de uma espécie a partir do que não é visível a olho nu. Foram estes os temas tratados pelo seminário “Técnicas de Imagem”, realizado recentemente no Museu Biológico do Instituto Butantan.
Dentre os métodos abordados durante o seminário, recebeu destaque a microscopia confocal. A técnica envolve a utilização de um microscópio de fluorescência avançada, que funciona por meio de raios laser passando por espelhos que dividem a direção dos feixes (espelhos dicromáticos).
Esse procedimento fornece múltiplos planos de visão da célula que estiver sendo estudada, possibilitando a obtenção de imagens em três dimensões. Isso facilita a distinção entre sobreposição e co-localização das estruturas vistas ao microscópio. “Você consegue fazer uma tomografia da sua célula”, foi como o palestrante Fábio Dupart Nascimento, do Departamento de Biologia Molecular, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), descreveu o método. Ele ressaltou, no entanto, que esse tipo de técnica ainda é pouco difundido.
Fábio Dupart utiliza a microscopia confocal para estudar o funcionamento de células em tempo real. Segundo o pesquisador, uma das grandes vantagens dessa técnica é a possibilidade de delimitação de uma célula específica para observá-la mais detalhadamente.
Além das microscopias de luz, eletrônica e de varredura, Toshie Kawano, do Laboratório de Parasitologia, do Instituto Butantan, também utiliza a microscopia confocal. Durante o seminário, a pesquisadora falou sobre a análise de embriões de moluscos por meio das várias formas de obtenção de imagens. Para isso, Toshie Kawano utilizou modelos experimentais que mostram as diferenças apresentadas no desenvolvimento embrionário entre grupos selvagens e mutantes de moluscos.
O pesquisador Carlos Jared, do Laboratório de Biologia Celular, do Instituto Butantan, utiliza técnicas de microscopia para analisar a estrutura morfológica das glândulas que produzem feromônios em répteis escamosos (ordem Squamata). Dentre os animais deste grupo, o professor destacou no seminário os casos dos lagartos (subordem Lacertilia) e das cobras-de-duas-cabeças ou anfisbênias (subordem Amphisbaenia).
Segundo Jared, é possível associar o tipo de estrutura responsável pela comunicação química com a história evolutiva de cada um desses animais. Através de imagens de estruturas microscópicas, o pesquisador mostrou que o tipo de glândula que produz feromônios nas anfisbênias (glândulas pré-cloacais) é o mais adaptado a esse animal, de hábitos fosseiros. O grupo dos lagartos foi exemplificado por um representante bastante brasileiro: o calango (Ameiva ameiva). Essa espécie apresenta as chamadas glândulas femorais, que liberam um plug de secreção, responsável pela comunicação química.