São Paulo (AUN - USP) - Batiscafos são aparelhos submersíveis de exame do fundo oceânico, utilizados em missões de observação e resgate. BATIUSP é o nome do batiscafo desenvolvido pelo Instituto de Oceanografia (IO) da USP, durante o First GARP Experiment (FGGE - Primeira experiência Global do GARP - Global Atmospheric Research Programme) em 1979.
O BATIUSP foi criado com o objetivo de recuperar dados de uma pesquisa do então coordenador nacional do First GARP Experiment, professor Afrânio Rubens de Mesquita, do IO. Esses dados tinham como finalidade complementar uma tese recém-desenvolvida por ele, na Inglaterra, na qual havia faltado considerar a influência de uma força chamada de Coriolis. Essa força atua sobre tudo o que está em movimento na superfície terrestre, inclusive as águas marinhas que oscilam de nível e que eram o alvo da pesquisa do professor Mesquita. Esse estudo era de extrema importância para a compreensão do clima no Norte e Nordeste brasileiros.
Para obter o valor da força Coriolis, foram colocados dois medidores de nível do mar, conhecidos como marégrafos, em dois pontos do Oceano Atlântico: um próximo da costa brasileira e o outro, dos rochedos de São Pedro e São Paulo – ambos paralelos à linha do Equador. Através da diferença de pressão entre esses dois pontos é que essa força poderia ser determinada.
Entretanto, o projeto enfrentou sérias dificuldades. Primeiro, a bóia mais próxima da costa brasileira se soltou e foi encontrada próxima ao estado da Flórida (EUA). Ainda assim, havia a possibilidade de continuar o estudo apenas com os dados gravados no outro marégrafo, se este não tivesse se soltado da bóia que o mantinha próximo da superfície e se depositado no fundo do mar, a 100m de profundidade.
Foi justamente com a finalidade de recuperar esse marégrafo que o BATIUSP foi desenvolvido. O projeto é dos físicos Paulo Mancuso Tupinambá e José Mário Conceição de Souza, e foi construído pela Indústria Paulista, pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas e pelo Instituto Oceanográfico da USP, e a Politécnica da USP, sendo financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pelo BANESPA. Também teve o apoio integral do governo – na época, militar – recebendo suporte da Marinha Brasileira.
O BATIUSP foi testado até a profundidade de 200m, sem operador, e funcionou perfeitamente, mas não pode ser utilizado na recuperação do marégrafo. O terreno rochoso e o clima desfavorável não permitiram a descida do equipamento.
Apesar da “situação frustrante”, segundo o próprio professor Afrânio, o BATIUSP foi “um esforço bem sucedido na direção certa”. Isso, porque apesar de não ter sido útil para a recuperação dos dados da pesquisa, a tecnologia desenvolvida na sua construção foi o primeiro passo para a indústria brasileira de submersíveis. A Petrobrás foi quem melhor aproveitou esse conhecimento, que era até então exclusivo dos países desenvolvidos: o BATIUSP foi o primeiro submersível construído em um país emergente e o único desenvolvido por uma universidade.
Como define bem o professor Mesquita, o projeto “surgiu com uma finalidade científica, mas acabou ajudando a indústria nacional”. O BATIUSP está permanentemente exposto no Museu do IO, e pode ser visitado de terça a sexta-feira, das 9 às 17 horas e aos sábados e domingos das 10 às 16 horas.