São Paulo (AUN - USP) - A vacina BCG, preventiva da tuberculose, foi utilizada por cientistas do Instituto Butantan para o desenvolvimento de um novo imunizante. Chamada de BCG-Pertussis, a nova vacina recombinante protege também contra a coqueluche (doença conhecida como tosse comprida ou pertússis) e é eficiente no tratamento do câncer de bexiga.

O projeto foi desenvolvido por Ivan Pereira Nascimento, sob orientação de Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan. Os pesquisadores contaram com o apoio de grupos da Itália, dos Estados Unidos, do Instituto Pasteur da França e de outros cientistas do Butantan.

Até agora, testes feitos em animais já comprovaram a eficácia da BCG-Pertussis. Até o final do ano, a vacina recombinante deve ser produzida em condições de ser testada em seres humanos.

A BCG-pertussis é importante porque a vacina ministrada atualmente para prevenir a coqueluche, apesar de eficiente para pessoas a partir de determinada faixa etária, apresenta limitações. Conhecida como tríplice bacteriana ou DPT (D de difteria, P de pertussis e T de tétano), ela é aplicada em crianças aos 2, 4 e 6 meses e, depois, com um ano e meio e 5 anos. No entanto, ela só é eficaz a partir dos 6 meses de idade. Antes disso, a criança fica vulnerável à coqueluche.

A pesquisadora Cerqueira Leite explica que a DPT também não protege crianças menores de 6 meses da difteria e do tétano, mas os bebês apresentam imunidade para essas doenças porque a mãe é vacinada contra elas durante a gravidez. No caso da coqueluche, a mãe não pode ser vacinada porque não existem vacinas contra essa doença para adultos.

“No Brasil, o Butantan já produz uma vacina DPT, que tem uma cobertura muito boa no país. Só que a mortalidade por coqueluche que ainda existe é de crianças entre zero e 6 meses, antes da vacina fazer efeito”, destaca a cientista. Por isso, o projeto é que a BCG-Pertussis seja aplicada em recém-nascidos, na primeira semana de vida, quando é feita a imunização contra a tuberculose.

Além disso, o BCG-Pertussis é mais eficiente do que o BCG normal no tratamento do câncer de bexiga. Isso foi comprovado por testes em modelo animal, com colaboração de Miguel Srougi e Priscila Andrade, da Faculdade de Medicina da USP. Segundo Cerqueira Leite, cepas de BCG-Pertussis com essa finalidade terapêutica também serão testadas em humanos.

Vacina viva O BCG (bacilo de Calmette-Guerin), utilizado como vacina contra a tuberculose desde 1921, é muito seguro e pode servir de base para outras vacinas. Ele é utilizado como meio de apresentação de antígenos para o desenvolvimento de vacinas múltiplas.

Isso significa que, como o BCG é uma vacina viva, ele pode carregar antígenos de outros agentes causadores de doenças (patógenos). Por isso, é possível produzir uma vacina que funcione contra a tuberculose e contra outras bactérias ou vírus, denominada de BCG recombinante.

O BCG-Pertussis foi obtido conseguindo-se fazer com que o BCG expressasse proteínas do agente causador da coqueluche, a bactéria Bordetella pertussis. Para isso, os pesquisadores utilizaram o que se chama de vetores de expressão: pedaços de DNA circular (plasmídeos) que servem para multiplicar genes específicos ligados à produção de proteínas do patógeno.

Essas proteínas presentes na vacina BCG-Pertussis induzem, então, a resposta imunológica no organismo da pessoa vacinada, que produz anticorpos contra a coqueluche.