São Paulo (AUN - USP) - Muitas pessoas pensam que a camada de gelo que cobre parte do Oceano Antártico é uma área morta, mas pelo contrário, este gelo fornece um substrato poroso, onde as chamadas Algas de Gelo, que são adaptadas ao frio e à sombra, crescem.
Durante o inverno, a camada de gelo sobre o Oceano aumenta, e a quantidade de radiação solar que incide sobre o mesmo diminui e, com isso, as Algas do Gelo acabam se tornando a base da cadeia alimentar marinha. Elas atraem diversos animais, como zooplânctons e, também, o chamado Krill, um pequeno crustáceo que serve de alimento para animais maiores, como as baleias.
Vicente Gomes, professor de Ecofisiologia de Animais Marinhos, do Instituto Oceanográfico da USP, explica como esses seres vivos surgem no gelo: “No começo os blocos de gelo são apenas pequenos pedaços, que vão se juntando até ficarem gigantes e, com esse processo, acabam se formando vários poros e canais no gelo, o que permite o desenvolvimento dessa comunidade inteira que vive ali”.
O Krill que se alimenta das algas, atrai outros animais, como uma espécie de peixe que cava tocas no próprio gelo. Este peixe possui uma adaptação para não congelar ao entrar em contato com o gelo, o que geralmente ocorre com outras espécies. Ele produz glicoproteínas que impedem o congelamento do sangue e, com isso, pode viver próximo à camada de gelo.
Na primavera, o gelo começa a derreter e a liberar as algas, o que atrai outros peixes, que servem de alimento para animais maiores como lulas e aves marinhas, que migraram no período do inverno. O fitoplâncton também começa a se desenvolver na coluna de água, substituindo as Algas de Gelo, como base da cadeia alimentar até o próximo inverno.
Em geral, os animais que habitam o Oceano Antártico possuem características similares de adaptação para esse ambiente de frio extremo. Eles possuem um metabolismo baixíssimo no período de inverno, que é quando a oferta de alimento diminui. Resistem a uma pequena variação da temperatura, uma vez que a temperatura mínima da água pode chegar a 2ºC positivos ou negativos, havendo aí uma diferença de quatro graus apenas. E costumam ficar nas águas mais profundas que são mais quentes que as mais próximas da superfície.