São Paulo (AUN - USP) - "Avaliação do conhecimento da estrutura das comunidades bentônicas para o gerenciamento ambiental da Baía do Almirantado". É o título do projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP desde o ano passado como parte do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). O objetivo principal do projeto é estabelecer, junto a outras áreas de conhecimento, como química, física e geologia, um monitoramento de possíveis impactos ambientais futuros sobre as comunidades marinhas da região, tanto naturais, quanto provocados pela presença do homem.
O Tratado Antártico, assinado em 1959, preserva a Antártida para fins pacíficos e exige o compromisso de cooperação científica internacional, entre outras determinações. O Brasil aderiu ao Tratado em 1975 e, para tanto, se comprometeu a realizar pesquisas no continente. O PROANTAR foi criado em 1982 como um programa interministerial sob a responsabilidade da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) através de sua Secretaria, contando atualmente com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além do apoio logístico do Ministério da Marinha e da Força Aérea Brasileira.
A estação brasileira na Antártida, “Comandante Ferraz”, foi inaugurada em fevereiro de 1984 na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, localizada próximo à Península Antártida. O IO participa do PROANTAR desde as primeiras expedições, que tiveram início no verão austral de 1982/83. O Grupo de Pesquisa em Bentos Antártico, que estuda os organismos bentônicos, ou seja, aqueles que vivem associados a um substrato consolidado ou não (no fundo do mar), é um dos grupos do IO. Ele iniciou suas atividades em 1988 e vem coletando informações sobre as comunidades de invertebrados que vivem no assoalho da zona costeira rasa (até 30 metros de profundidade) da Enseada Martel, na Baía do Almirantado.
Desde 2002, o PROANTAR direcionou suas pesquisas para duas redes, uma de mudanças ambientais globais e outra de monitoramento do impacto ambiental local. O Grupo de Pesquisa em Bentos Antártico passou a integrar a Rede 2, de efeitos locais, através do projeto de avaliação das comunidades bentônicas para gerenciamento da Baía.
Segundo a coordenadora do grupo, Thaïs Navajas Corbisier, as comunidades bentônicas conservam-se intactas até o momento, mesmo com a presença humana. O bentos da Enseada Martel é muito rico e, sendo de região polar, tem um ciclo de vida muito longo e uma reprodução lenta. De acordo com os dados preliminares, as altas densidades de bentos ocorrem em locais sob condições mais estáveis e abrigados. Já as áreas que sofrem encalhe de blocos de gelo, e têm seu assoalho varrido, apresentam densidade mais baixa.
De acordo com a coordenadora, o ambiente costeiro da Antártica é provavelmente um dos mais sensíveis às mudanças ambientais. As comunidades bentônicas, em especial a fauna de sedimentos marinhos, têm mobilidade muito pequena e refletem as condições ambientais predominantes, estando muito sujeitas a mudanças do ambiente. Conhecer a composição específica, densidade, diversidade e biomassa das comunidades bentônicas, bem como a sua dinâmica trófica, é fundamental para avaliar futuras alterações ambientais de causas naturais ou antrópicas e planejar um gerenciamento ambiental no sentido de elaborar um plano de ordenamento e uso da estação Antártica Comandante Ferraz.