São Paulo (AUN - USP) - O veneno das cascavéis possui uma ação analgésica que está sendo estudada pela unidade de estudos da dor, do laboratório de fisiopatologia do Instituto Butantan. A intenção da unidade é entender os mecanismos da dor, isolar e purificar o fator (molécula responsável pelo efeito) e poder utilizá-lo como analgésico.
Testes realizados com o veneno bruto demonstraram que ele apresenta um efeito analgésico que pode durar de três a cinco dias, período muito superior aos analgésicos tradicionais. Essa substância possui uma ação parecida com a da morfina. No entanto, ao contrário da droga, os experimentos realizados até o momento não apresentaram sinais de ser causadora de dependência.
Efeitos colaterais ou alérgicos ainda não foram estudados profundamente pela unidade, sabe-se, no entanto, que sua tolerância não cruza com a da morfina, ou seja, uma pessoa que possuir alergia a morfina, não necessariamente possuirá alergia ao veneno.
“Nossa intenção é futuramente melhorar a terapia para dor em caso de acidentes; sem, é claro, dispensar a soroterapia que é essencial”, afirma a pesquisadora Yara Cury, responsável pela unidade. “Nós trabalhamos tanto com a dor causada pelos venenos e toxinas como com o efeito analgésico causado por eles, que é o caso da cascavel”.
O trabalho que busca isolar o fator e decodificar sua molécula está sendo realizado pelo Laboratório de Toxicologia Aplicada, e já se encontra em sua fase final. “Esperamos até o final deste ano ter o fator já isolado e patenteado”, acrescenta Yara.
Após o fator estar isolado começam os testes de toxicologia e a procura de possíveis efeitos colaterais, para verificar a possibilidade de utilizá-lo como um fármaco futuramente. “Muitos desses experimentos já foram realizados com o veneno bruto, mas os resultados que teremos com o fator ainda são desconhecidos”, completa a Yara.
Segundo a diretora do Laboratório de Fisiopatologia Ida Sano-Martins, essa ação do veneno de cascavel já era conhecida por Vital Brasil, que iniciou alguns estudos envolvendo também o tratamento do câncer. “Esses estudos haviam sido deixados de lado e agora estão sendo retomados pelo laboratório”, comenta.
“O estudo da dor exige um ambiente especialmente preparado, por isso estamos afastados do Laboratório de Fisiopatologia”, explica Yara. A unidade de estudos da dor funciona no térreo do prédio do laboratório de pesquisa e produção, que abriga também os laboratórios de Microbiologia, Genética, Virologia, entre outros; já o Laboratório de Fisiopatologia possui um prédio próprio em frente à biblioteca.