ISSN 2359-5191

07/05/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 06 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Instituto Oceanográfico da USP desenvolve projetos de conservação na região de Cananéia

São Paulo (AUN - USP) - Docentes e pós-graduandos do Laboratório de Bioecologia de Manguezais (BIOMA) do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo vem fazendo um monitoramento do impacto do turismo na região de Cananéia-Iguape, litoral sul do estado de São Paulo. Paralelamente, estão desenvolvendo um trabalho junto aos monitores ambientais e à população local, no sentido de conscientizá-los sobre a importância dos ecossistemas da região.

O BIOMA é um centro de ensino e informação sobre zonas úmidas costeiras tropicais, com ênfase no ecossistema manguezal, e é coordenado pela professora Yara Schaeffer-Novelli. A atividade de monitoramento e conscientização na região de Cananéia é um projeto desenvolvido paralelamente a outras atividades pelo laboratório e é uma iniciativa informal do grupo, que aproveita as idas constantes à base de pesquisa do IO em Cananéia para colaborar na conservação da região através da troca de informações e experiências com a população local.

O projeto surgiu a partir da constatação da diferença de perfis do turismo em cada parte da região. A fim de sistematizar as informações colhidas, os pesquisadores dividiram a região em parte norte (Iguape e Boqueirão Norte) e sul (Cananéia e Ilha do Cardoso). Vários indicadores foram pesquisados, como o tipo de turista que visita cada área, qual a procedência dos mesmos e qual a sua relação com o local. Para conhecer melhor a região, os pesquisadores visitaram as cidades, circularam pelos bairros, foram aos museus e clubes de pesca da região. De acordo com Renato de Almeida, doutorando do IO e integrante do projeto, as opiniões de moradores e turistas acerca do turismo na região foram ouvidas e analisadas juntamente com outros dados do impacto ambiental do turismo, como quantidade de ônibus de turismo, lixo e esgoto produzido e consumo de água.

Constatou-se que ao norte o turismo é de massa e que dezenas de ônibus chegam à região diariamente na alta temporada. O turista que vai para essa localidade procura apenas a praia, não se preocupando com os demais ecossistemas locais. Esse turista quase não traz dinheiro para a região, pois consome pouco. Por sua vez, o morador do norte trabalha no comércio e a cultura local perdeu sua diversidade, pois foi seduzida pela nova alternativa econômica representada pelo turismo. Já ao sul, prevalece o ecoturismo e as viagens em família. Os turistas se interessam pela cultura local, que se mantém viva, observam os botos e visitam o manguezal, além de irem a praia. Nessa área, os turistas consomem mais, o que favorece a economia local. Os moradores, em sua maioria, ainda têm como fonte de renda a pesca tradicional realizada junto ao estuário.

Em ambas as partes, existem problemas de lixo e violência. Entretanto, esses são mais acentuados ao norte, onde existe um maior conflito social entre moradores e visitantes. Nessa área, o estímulo ao turismo, agora desenfreado e sem planejamento, como forma de crescimento econômico é maior. O governo local vê no turismo o crescimento rápido que tanto almeja sem levar em consideração que, quando mal planejada, essa atividade apenas concentra a renda e traz diversos problemas, entre os quais a destruição das riquezas naturais, que são o principal atrativo da região.

A população local de Iguape e do Boqueirão Norte não está satisfeita com o turismo, principalmente após a construção da ponte interligando Iguape à Ilha Comprida, que gerou um aumento do fluxo de pessoas para a região. Atualmente, Ilha Comprida é o município que mais cresce na região, principalmente devido ao turismo. Já a população situada mais ao sul ainda tem uma expectativa positiva com relação ao turismo.

Após a detecção dessa situação, e levando em consideração que a região representa um único sistema, os pesquisadores passaram a atuar diretamente junto à comunidade, transmitindo aos moradores as informações captadas. Num primeiro momento, vem se trabalhando junto aos monitores da região sul que recebem alunos e turistas. O grupo de trabalho passa informações sobre os ecossistemas da região e realiza cursos informais para os monitores. Também apresenta palestras em escolas e mantém um contato com a população local. De acordo com Marília Cunha Lignon, doutoranda e integrante do projeto, uma grande preocupação por parte dos pesquisadores é com o fluxo de visitantes em áreas de manguezal, que, em larga escala, pode interferir destruindo o ecossistema.

Renato e Marília ressaltam que o grupo procura colaborar com a região, mas não tem a solução para todos os problemas. Os principais objetivos do grupo são ajudar na conservação dos ecossistemas através de um planejamento e valorizar e incentivar a propagação das tradições e o respeito ao povo local. Esses objetivos são partilhados pela própria população, que também se organiza para melhorar a situação do turismo.

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