São Paulo (AUN - USP) - O sangue das jararacas pode ficar até um dia inteiro ao ar livre sem coagular, baseados nisso os pesquisadores do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto Butantan isolaram o fator (molécula) responsável por este fenômeno.
O fator anticoagulante poderá ser utilizado no tratamento de doenças como a trombose. Essa se desenvolve a partir da formação de um coágulo no sistema sangüíneo capaz de obstruir a passagem do sangue por veia ou artérias. Se atingir o sistema respiratório ou o coração, pode causa morte. Quando a descoberta do coágulo é feita, ele deve ser tratado com anticoagulantes injetáveis.
Durante a pesquisa também foi isolado o fator antiveneno, que também possui efeitos anticoagulantes. Esse é o fator responsável pelas jararacas não serem afetadas por seu próprio veneno.
O estudo está ainda em estágio inicial e agora testes referentes a possível utilização do fator em animais ou humanos começarão a serem feitos. O experimento faz parte da retomada do estudo da fisiologia das serpentes dentro do Laboratório de Fisopatologia. “Nós temos um compromisso com o público no estudo das toxinas de animais peçonhentos, hoje com quatro pessoas trabalhando nessa área, podemos retomar o estudo das serpentes” explica a Ida Sano-Martins diretora do laboratório.
Segundo a pesquisadora, é um estudo inédito. “A dificuldade existe porque as fundações de amparo à pesquisa no mundo não costumam financiar pesquisas desse gênero”, completa Ida, “talvez agora com o isolamento do fator, possamos ter uma verba da Fapesp para esse trabalho.”
Essa linha de pesquisa envolve o estudo de todo o sistema circulatório das serpentes, incluindo o de coagulação e a hematopoese (produção sangüínea). O interesse pela coagulação está, não somente, no fator anticoagulante, mas também nos efeitos que uma picada de serpente causa ao organismo humano.
O estudo das alterações coagulatórias causadas por picadas de animais peçonhentos é a linha principal de pesquisa do laboratório. Essas alterações são de caráter sistêmico, ou seja, atinge todo o organismo, e não de ação local como, por exemplo, uma picada de aranha que pode causar a necrose do local atingido.
O laboratório presta serviços também aos pacientes do Hospital Vital Brasil no Instituto Butantan.