São Paulo (AUN - USP) - As intervenções humanas na área costeira de Bertioga estão modificando processos de formação e evolução natural das praias e dos ambientes ao seu entorno. Essa foi a constatação feita por Marisa de Souto Matos Fierz na sua dissertação de mestrado defendida no Instituto Oceanográfico.
Bertioga localiza-se no Litoral Norte do Estado de São Paulo e é uma região litorânea com extensa planície costeira e grande estuário que alimenta uma importante área de manguezal. Essa planície costeira tem sofrido nas últimas décadas o impacto ambiental causado pelo crescimento desordenado da ocupação e do turismo.
Para desenvolver seu trabalho, Marisa Fierz foi a campo para obter evidências da influência humana na mudança das características naturais da região. Ela também analisou fotos aéreas e imagens de satélite que revelavam a evolução do uso e da ocupação na planície costeira entre 1962 e 1994.
Fierz descobriu que as principais modificações repentinas ocorrem em decorrência de intervenções antrópicas. A necessidade de crescimento econômico da região gerou crescimento da ocupação e da exploração imobiliária, assim como desenvolvimento da indústria e do turismo.
As principais evidências da interferência humana são as grandes áreas de desmatamento, aterros e construções que causam alteração na dinâmica sedimentar da área, podendo ocasionar modificações irreversíveis; a aceleração dos processos erosivos e depositivos pode acabar criando um distúrbio cíclico que leva à destruição das formas naturais do relevo.
De maneira geral, as modificações que afetaram a região de Bertioga no período de 62 a 94 estão associados especialmente à expansão urbana, processo no qual a construção da Rio-Santos na década de 1970 foi fator preponderante. A construção de vias de acesso à área potencializou diversos problemas ambientais. A população mais pobre foi obrigada a alojar-se junto ao manguezal, o que causou grande impacto, juntamente com desmatamentos, remanejamento de material sedimentar, impermeabilização do solo e canalização das águas.
Com a extração da vegetação natural da área costeira, aumentou-se a disponibilidade de sedimentos no sistema, que ficou instável. Os canais de drenagem ficaram assoreados e tiveram seu fluxo desviado para o solo, provocando erosão laminar ou desgaste de áreas impróprias. A canalização dos cursos d’água, juntamente com o desmatamento, impediu que houvesse vazão natural dos efluentes no lençol freático, provocando maior retenção e concentração dos elementos poluidores despejados no mar. Por outro lado, a maior concentração de líquidos nos canais pluviais e fluviais, decorrentes da impermeabilização do solo, geraram tanto erosão nas margens desses rios quanto erosão na praia onde desembocam.