ISSN 2359-5191

20/05/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 31 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Água radioativa atinge oceano em Fukushima e abre discussões sobre monitoramento

São Paulo (AUN - USP) - Passaram-se dois meses desde o terremoto e conseqüente tsunami que atingiram o Japão, em 11 de março. Uma das áreas mais afetadas foi Fukushima, residência da usina de energia nuclear de mesmo nome controlada pela Tokyo Electric Power Company (Tepco). Desde o fatídico instante em que falharam os últimos geradores que controlavam o sistema de resfriamento, o mundo tem acompanhado o drama da contenção de material radioativo.

A principal atividade tem sido manter os reatores danificados resfriados para evitar novas explosões, incêndios e liberação de elementos radioativos. Um dos fronts da batalha é a remoção da água utilizada: a Tepco decidiu pelo despejo de 11 mil toneladas do material no Oceano Pacífico para criar espaço para outros líquidos mais contaminados, parados em locais aos quais trabalhadores precisam ter acesso.

A parte boa, para o resto do mundo, é que tal dilúvio de água radioativa dificilmente chegará longe, graças ao processo de diluição oceânica. “No Havaí, por exemplo, os elementos poderão até ser mensurados, mas não haverá problema”, diz o professor Rubens Figueira, do Instituto Oceanográfico (IO-USP).

Cerca de cem vezes acima do limite legal de radiação, a água despejada nos ensejos da Fukushima Daiichi contém principalmente iodo 131 (meia-vida de 8 dias), césio 134 (meia-vida de 2 anos) e césio 137 (meia-vida de 30 anos). No corpo humano, o césio age no músculo e compete com o sódio, enquanto o iodo normalmente segue para tiróide, aumentando a probabilidade de câncer na glândula.

“Esses elementos são sempre nocivos no meio marinho”, diz Figueira. “Mas após a liberação, há pouco o que fazer. Precisa-se de monitoramento constante, toda a gama trófica [sequência de seres vivos que dependem uns dos outros para se alimentar] será afetada, e depende muito da quantidade. Por isso precisa-se de laudos de liberação”.

Em seu site oficial, a Tepco libera relatórios periódicos sobre a situação na usina, mas isso não impede que o medo se alastre pelo mundo. Algumas nações-cliente do Japão já diminuíram o número de importações de alimentos, principalmente peixes, enquanto o Brasil anunciou que continuará comprando, mas exigiu obediência rígida aos limites legais de radiação.

A preocupação tomou forma concreta quando um peixe capturado entre Fukushima e Tóquio, em abril, apresentou 4080 becquerels (unidade de medida para radioatividade, definido como sendo a quantidade de material no qual um núcleo decai por segundo) por quilo de iodo 131 radioativo. O limite atual japonês, para peixes e vegetais, é de 2000 becquerels por quilo.

“Como radiação é probabilidade, quanto maior a quantidade maior a probabilidade do organismo morrer, mutar ou ter câncer“, resume Figueira. Não significa, necessariamente, que com níveis altos veremos peixes de oito olhos. “Pode acontecer. Chernobyl, mesmo depois do acidente, teve uma recuperação de meio-ambiente fantástica. Mas depende do tipo de organismo que consegue sobreviver”.

Segundo Figueira, “os japoneses acabam servindo como experimento, porque só nessas horas de crise podemos estabelecer novos limites”. E tais limites vêm acompanhados de novas discussões sobre a segurança da energia nuclear. “A radiação é estigmatizada, as pessoas não conhecem e tem medo. Já a questão nuclear precisa ser debatida, deve-se aproximar a população disso. Falta um pouco de democracia na discussão das informações”.

De acordo com os dados publicados em 7 de maio pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), os níveis de radioatividade no oceano mantem-se constantes desde o começo do mês, com césio 134 e césio 137 em torno de 10 becquerels por quilo/litro e iodo 131 em 200 becquerels por quilo/litro.

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