São Paulo (AUN - USP) - Baratear o produto para torná-lo mais acessível. Este é um dos principais motivos que levaram pesquisadores do Instituto Butantan a investir no desenvolvimento e na produção em escala de um novo surfactante pulmonar. O projeto, concebido pelo professor Isaías Raw e coordenado pela pesquisadora Flávia Saldanha Kubrusly, é pioneiro no Brasil.
O surfactante pulmonar é um tensoativo de superfície composto principalmente por fosfolipídios (90%) e proteínas. Ele funciona como uma espécie de “lubrificante”, ajudando a abrir e a fechar os alvéolos pulmonares, facilitando, assim, as trocas gasosas e a respiração, evitando lesões nas células do pulmão. Essa substância é normalmente produzida pelo organismo dos mamíferos, em células alveolares chamadas, no caso do homem, pneumócitos II.
Entretanto, boa parte dos bebês que nascem prematuramente não possui o pulmão completamente desenvolvido e, dessa forma, não produzem seu próprio surfactante (deficiência chamada Síndrome do Desconforto Respiratório Neonatal). Tal deficiência pode ser controlada com um tratamento que consiste na administração do surfactante ao paciente. Contudo pelo elevado preço do fármaco, seu uso tem sido apenas terapêutico quando o ideal seria o uso preventivo.
De acordo com Flávia, o frasco de 200 mg de surfactante importado custa em média R$ 600,00. Assim, os pesquisadores do Butantan buscaram reduzir este preço através da redução nos custos de produção. “Acreditamos que chegaremos a um preço próximo de R$ 100,00 por frasco de 200 mg de surfactante”, afirma.
Uma das medidas tomadas pelos pesquisadores com o objetivo de reduzir o preço foi a substituição do processo de centrifugação em alta velocidade em escala industrial pelo emprego de um derivado de celulose, que “absorve” melhor os fosfolipídios. Além disso, a parceria com a Sadia, que fornece a matéria-prima (no caso, pulmões suínos) e a redução nos custos laboratoriais devem colaborar para a queda do preço.
Segundo a pesquisadora, a redução do preço final não só deixará mais barato o tratamento da Síndrome do Desconforto Respiratório Neonatal, mas também facilitará o uso do surfactante no controle de outros distúrbios, como a ARDS (Síndrome do Desconforto Respiratório em Adultos) e na recuperação de lesões dos pulmões, como as seqüelas da pneumonia e da pancreatite, e as causadas pelo cigarro e pela contaminação por particulados (silício).
O surfactante produzido pelo Butantan foi testado no Instituto Pasteur, na França, e, além dos efeitos esperados, provou ter também atividade antiinflamatória. Atualmente, o produto está na fase de testes em seres humanos, nos estudos multicêntricos que estão sendo organizados.