ISSN 2359-5191

19/07/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 72 - Ciência e Tecnologia - Instituto Oceanográfico
Variação climática na Antártica é tema de pesquisa do IO

São Paulo (AUN - USP) - Para investigar a variação climática na região norte da Península Antártica, o pesquisador Marcos Tonelli, doutorando do Instituto Oceanográfico (IO-USP), em conjunto com outros dois pesquisadores alemães, estudou amostras de precipitação de neve e testemunhos de gelo (“cilindros” retirados do chão com uma broca). “Queremos saber se em determinado período nevou mais ou menos do que outro. Criamos uma série temporal de deposição de neve, que mostra a variação ao longo do tempo”, disse.

Uma das características mais importantes da região é a Corrente Circumpolar Antártica (CCA), que flui de oeste para leste em torno do continente. “Por realizar a conexão dos três oceanos, Pacífico, Índico e Atlântico, ela permite a troca de propriedades fisico-químicas entre os mesmos e acaba determinando a circulação global”, resumiu.

Segundo o brasileiro, a principal consequência possível das condições atuais de temperatura elevada no território é a alteração dessa circulação, que pode levar à diminuição do transporte de calor pelos oceanos e alterar as condições climáticas do planeta. “Poderíamos ter, por exemplo, a região tropical se tornando demasiadamente quente e as regiões temperadas demasiadamente frias. Como isso, as regiões ‘habitáveis’ para o homem seriam consideravelmente diminuídas”, explicou.

A proporção entre os isótopos O16 e O18 das moléculas de água, disse o oceanógrafo, é um indicativo da temperatura de determinada época. Além disso, a composição da precipitação reflete também condições da superfície oceânica e mudanças nas correntes, entre outros fatores. Já os testemunhos de gelo, cujo processo de perfuração dura semanas, possuem pequenas bolhas de ar com informações químicas do tempo de sua formação.

“Os resultados mostraram como o regime de ventos pode afetar as características do continente, que por sua vez afetam a biota local. Além disso, apresentaram aspectos da dinâmica que podem ser utilizados em modelos para realização de previsões mais precisas”, resumiu Tonelli.

Relatos de uma viagem gelada
“Viajei para a Antártica para coletar outros dados. Passei um mês a bordo do Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, da Marinha. Participei da coleta de dados da água do mar. Foram realizadas dezenas de estações de coletas, onde, entre outras amostras, coletávamos dados de salinidade, temperatura e CO2 dissolvido. Eu trabalhava no convés, manipulando os equipamentos de coleta que eram lançados ao mar. Como não é um cruzeiro de lazer, há perigos inerentes ao trabalho que demandam atenção. Os equipamentos são muito pesados e podem machucar, cabos podem se romper, o mar revolto pode lançá-lo para fora da embarcação. É realmente perigoso, mas basta seguir os protocolos de segurança e nunca ficar desatento. De qualquer maneira, o trabalho é emocionante e o ambiente é impressionante. Um dos locais mais belos que visitei.

“Como tempo é dinheiro, o trabalho ocorre em esquema ‘non stop’. São organizados turnos de revezamento entre os pesquisadores. Fato curioso é que o navio pertence à Marinha do Brasil. Com isso, é necessário conviver com militares (que eram maioria no navio, cerca de 80%) o tempo todo. Pode ser complicado às vezes. Havia pesquisadores do Brasil, Alemanha, Portugal e Argentina à bordo.

“Para a perfuração, havia pesquisadores do Chile e Alemanha. Eles ficam acampados próximo ao local do furo. É um ambiente ainda mais inóspito que o navio de pesquisa e com mais restrições. Cardápio menos variado (mas com muito chocolate – energia e lazer); sem entretenimento (a não ser o chocolate); sem banho; sem banheiro (fezes e urina são “guardadas” e trazidas de volta para não contaminar o ambiente); sujeitos às intempéries, muitas vezes violentas! Contudo, com muito mais adrenalina!”

Mais informações: http://www.the-cryosphere-discuss.net/5/951/2011/tcd-5-951-2011.html

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