São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores do Instituto Butantan elaboraram um projeto que visa facilitar o combate a diarréias causadas por bactérias. Trata-se de um novo método de diagnóstico que permitirá agilizar e baratear o tratamento dessas infecções.
O intestino do ser humano abriga inúmeras colônias de bactérias, dentre as quais encontra-se a Escherichia coli, normalmente inofensiva para nosso organismo. Entretanto, variações genéticas decorrentes do método de reprodução das bactérias (em que há troca de fragmentos de DNA) estão dando origem a novos tipos de Escherichia coli, capazes de causar infecções intestinais e outras seqüelas, como diarréias severas e colites hemorrágicas, podendo até levar à morte. Outros estudos revelam que as diarréias também contribuem para a má-nutrição e para o retardamento do desenvolvimento físico e mental.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que ocorram cerca de 1,5 bilhões de infecções por E.coli no mundo, que resultam em três milhões de mortes por ano. Esses altos valores podem ser justificados pelo fato de a transmissão dessas bactérias se dar pela ingestão de água e alimentos contaminados, sobretudo leite, vegetais e carnes de boi e peixe mal cozidas.
O diagnóstico da diarréia é realizado através de mecanismos tradicionais de identificação bacteriana, sendo assim um processo relativamente demorado e que nem sempre é conclusivo. A partir disso, o Instituto Butantan vem desenvolvendo métodos diagnósticos que permitirão detectar e identificar bactérias E.coli diretamente em amostras de fezes e em alimentos através da análise dos fatores de virulência (proteínas codificadas pelos genes bacterianos capazes de causar doenças). Este estudo tem a colaboração da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, da Unifesp e do instituto Robert Koch de Berlim.
De acordo com a pesquisadora Roxane Piazza, elaboradora do projeto, essa nova tecnologia permitirá tratamentos mais eficientes e rápidos, e um melhor acompanhamento a médio e longo prazo. “Alguns métodos semelhantes já foram descritos e existem kits [para diagnóstico] disponíveis comercialmente em países desenvolvidos”, afirma. Contudo, esses métodos são “extremamente caros e, portanto, inviáveis para serem utilizados em países em desenvolvimento”.
Apesar de já terem sido obtidos em laboratório anticorpos capazes de identificar várias toxinas e proteínas liberadas pelos diferentes tipos de Escherichia coli, uma série de outras pesquisas e testes ainda precisam ser feitos. Segundo Roxane, os últimos testes servirão para verificar a especificidade e a sensibilidade desses anticorpos, a fim de evitar falsos-positivos. Só depois é que o sistema poderá ser utilizado em pacientes.