São Paulo (AUN - USP) - A pesquisa realizada pelo Laboratório de Nutrientes, Micronutrientes e Traços no Oceano (Labnut) do Instituto Oceanográfico da USP (IO-USP) no Estreito de Bransfield, na Antártida, busca compreender como o gás carbônico (CO2) se movimenta durante o seu ciclo. “A meta é descobrir quais são as condições ideais para que o gás carbônico absorvido pelos mares seja convertido em matéria orgânica e afunde, dificultando a volta desse gás para a superfície”, comenta Elisabete de Santis Braga, professora e coordenadora do projeto.
A pesquisadora explica: “Os oceanos são grandes sumidouros de gás carbônico, principalmente nas regiões polares, esse gás é utilizado pelo fitoplâncton na fotossíntese, que, por sua vez, serve de alimento ao zooplâncton, e assim o carbono se converte em matéria orgânica”. Nesse ponto, começa o trabalho da pesquisadora. “queremos estudar como os detritoscontendo carbono incorporado afundam, chegando a atingir mais de 200metros de profundidade, de onde o carbono demorará muito para retornar à atmosfera”, completa Elisabete.
Para realizar esse estudo, é feita a medição do radioisótopo Tório (234Th), que tem “afinidade por material particulado”, ou seja, a característica de se aglutinar a matéria orgânica presente na água, que contém nutrientes como nitrogênio e fósforo e afundar. “Medindo a concentração do Tório nas águas profundas é possível obter a quantidade de carbono que chega a essas águas”, diz a pesquisadora, que completa: “O mais importante nessa pesquisa é a análise dos ciclos biogeoquímicos, ou seja, ciclos dos nutrientes pelo meio ambiente, que integram o estudo de várias ciências, assim se conhece a capacidade de captação de carbono em alguma região”.
Elisabete destaca a importância do projeto, que considera “ousado e inédito”, para o momento da pesquisa Antártica mundial, e foca num dos temas que mais preocupam os cientistas nos últimos anos: o aquecimento global, com aumento da concentração de CO2 na atmosfera. “Nesse momento, é muito importante mostrarmos o papeldas regiões polares no combate ao aquecimento global, sendo um motivo a mais para preservá-las, que é o objetivo final das pesquisas na área.”
O projeto, batizado de Carbothorium pelo uso de Carbono e Tório, é financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), tem o apoio do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares) e faz parte do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Além disso, conta com um apoio estrutural importante: um contêiner laboratório próprio, que conta com alguns dos equipamentos mais delicados e importantes para a pesquisa e evita a concorrência pelos laboratórios dos navios, que acabam sendo usados para serviços mais grosseiros. “O contêiner foi vital para nos dar uma área privada de trabalho e facilitar a pesquisa, em alguns casos usa-se até contêineres como dormitório, permitindo levar mais três ou quatro pessoas, o que para nós ajuda muito num trabalho desses”, completa a professora.