São Paulo (AUN - USP) - Durante uma pesquisa que percorreu o Atlântico Sul, de Santos (São Paulo) até a Cidade do Cabo, na África do Sul, pesquisadores brasileiros detectaram um aumento de temperatura em regiões mais profundas do oceano, nas quais a influência do homem demora mais para ser sentida. São variações centesimais, mas significativas cientificamente porque podem influenciar a circulação das águas e o clima. Porém, essas mudanças ainda não atingiram as maiores profundidades do oceano, que possuem entre 4 e 5 mil metros.
Esse projeto, chamado BEAGLE, faz parte de um programa japonês que vai dar a volta ao mundo à altura da latitude 23 graus sul, estudando as condições oceanográficas. A região entre Santos e a Cidade do Cabo foi monitorada no final de 2003 em parceria com o Instituto Oceanográfico ( IO ) da Universidade de São Paulo e os resultados foram comparados com os de pesquisa feita por alemães em 1994. A professora do IO, Elisabete Braga Saraiva explica que a triagem e o tratamento dos dados ainda não foram concluídos, mas que algumas mudanças já puderam ser verificadas.
“Essa não é nenhuma catástrofe, mas já é um primeiro sinal de alerta”, explica a professora. Segunda ela, a poluição num determinado local pode se espalhar, dependendo da circulação da água, horizontalmente e verticalmente por todo o mar, atingindo regiões remotas, como as grandes profundidades e a Antártida. Essas regiões costumam ser bastante estáveis quanto à temperatura, por isso variações, mesmo que pequenas, são importantes.
A variação de temperatura da água pode retirar calor de uma região mais quente e levá-la para uma mais fria, alterando as temperaturas de um lugar, o que resulta em fortes secas e chuvas, além do derretimento de geleiras nos pólos e aumento do nível do mar em algumas regiões. “A temperatura dos oceanos pode alterar as condições do planeta como um todo”, diz Elisabete.
Outra constatação da pesquisa foi a de que o Clorofluorcarbono (o CFC) que destrói a camada de ozônio, também está presente em profundidades de 1000 a 1800 metros. É uma substância artificial e tóxica de baixa concentração nessa profundidade. Mas caso aumente, pode alterar mecanismos importantes dos oceanos.
Exposição fotográfica
Além de fotos do navio usado nessas pesquisas, o japonês Mirai, um dos maiores do mundo, a exposição fotográfica que ocorre no IO até 19 de novembro, das 9 às 17 horas, traz diversas embarcações, nas quais Elisabete trabalhou. Realizada em parceria com seu marido, Nivaldo da Graça Saraiva, as fotos estão divididas por três temas: fortes e faróis, que ocorrem em acidentes geográficos próximos à costa; mares, também em regiões próximas da costa e oceanos. A exposição comemora os 70 anos da USP trazendo uma temática ligada à oceanografia. Além do Brasil, podem ser vistas fotos da África do Sul, França, Guiana Francesa, Grécia, dentre outros lugares.