ISSN 2359-5191

08/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 22 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Invasões marinhas ameaçam equilíbrio, economia e saúde humana
Espécies de outras regiões do planeta, introduzidas pelos portos, afetam o meio ambiente e trazem prejuízos ao país.

São Paulo (AUN - USP) - Um navio estrangeiro aproxima-se do porto, apesar de estar vazio ele pode conter várias espécies naturais de outros lugares do globo. Se esses seres encontrarem condições favoráveis de sobrevivência podem se desenvolver nessa nova região e, não tendo predadores naturais, causar um grande desequilíbrio ambiental, além de prejuízos econômicos e afetar a saúde humana. As principais formas de transporte dessas espécies são os cascos das embarcações (no caso dos moluscos), as mudanças de lugar das plataformas de petróleo ou a água de lastro carregada nos navios para manter a estabilidade quando estão vazios. Um dos programas desenvolvidos pelo PROBIO (Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira), do Ministério do Meio Ambiente, vai reunir as informações e possíveis soluções para o problema que já causou sérias epidemias no Brasil.

A água de lastro é a responsável pela maior parte da introdução de espécies invasoras. Quando um navio de carga de um país é descarregado em outro, ele precisa coletar a água daquela região para regular sua estabilidade, garantir que a hélice do navio afunde e manter sua segurança. Esse processo acaba levando a água de um local para outro, junto com ela bactérias, vírus e outros seres em fases iniciais de desenvolvimento também são transportados. Segundo o professor do Instituto Oceanográfico da USP (IO), Rubens Mendes Lopes, que participa do PROBIO, foi aprovada este ano uma regulação internacional sobre a água de lastro na convenção internacional da Organização Marítima Internacional (IMO), ligada à ONU, mas que ainda precisa ser ratificada pelos países participantes.

A troca da água de lastro em alto-mar foi o principal ponto abordado pela convenção. “A água tem características diferentes nas regiões costeiras e em mar aberto”, explica o professor. A salinidade mais alta, a menor concentração de organismos vivos e de substâncias químicas da água de alto-mar diminuiriam muito a possibilidade de que outras espécies se desenvolvessem no porto de destino. Essa solução também tem desvantagens, a troca no meio da viagem pode trazer alguns riscos às embarcações. Há outros métodos existentes, como o tratamento químico dessa água, mas como o volume de líquido é muito grande, eles sairiam muito caros e complicados de instalar, “é quase como colocar uma estação de tratamento de água no navio”, compara Rubens.

O Brasil teve um papel importante na convenção, ao introduzir a idéia de que a água de lastro pode conter bactérias e vírus patogênicos, relata o professor. E os países oceânicos são os que mais sofrem com isso. Nos portos brasileiros esse controle é feito pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que exige a entrega de um formulário sobre a troca da água de lastro, o local e a quantidade trocada. A eficiência dessa medida, porém, é duvidosa. A amostra da água de lastro desses navios, segundo pesquisa da qual Rubens participou, não correspondia, muitas vezes, ao indicado no formulário. “Muitos navios trocavam a água, mas não em alto-mar, e sim perto da costa”, explica. A questão é como monitorar esses navios para exigir que eles realmente façam essa mudança. “O custo de fazer um navio voltar, por exemplo, é muito alto”.

Epidemias

Em 1991 sofremos um surto de cólera que foi, provavelmente, causado por organismos trazidos de outras regiões. Não havia cólera na América do Sul, essa epidemia começou no Peru e alastrou-se para o Brasil. “A cólera endêmica existia no Sudeste Asiático, o vírus com fator de toxicidade não existia aqui, mas foi trazido”, explica o professor. Em 1999 houve outro surto de cólera no país na região do porto de Paranaguá, dessa vez mais restrito, com 467 casos e duas mortes.

Os prejuízos econômicos causados por espécies invasoras também são grandes. O mexilhão dourado (Lumnoperna fortunei), característico do sudeste asiático, espalhou-se, inicialmente, nas bacias hidrográficas do sul do país e alcançou Itaipu em 2001, que precisou ser parada para que se retirassem os moluscos da usina, trazendo grandes prejuízos. Esse mexilhão, que fica incrustado no casco do barco, também já chegou ao pantanal e ameaça, devido à proximidade, espalhar-se pela Amazônia.

Mais informações: rmlopes@usp.br

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