A nanopartícula dióxido de titânio (TiO2) pode causar problemas como alterações no DNA e até levar os peixes à morte. Este agente intoxicante representa um risco para a reprodução dos peixes e até para a alimentação dos humanos. Pensando nisso, a mestra em ciências na área de oceanografia biológica, Caroline Patrício Vignardi, orientada pelo professor Dr. Phan Van Ngan, elaborou pesquisas para o Instituto Oceanográfico da USP sobre a toxicidade do TiO2 no ambiente marinho.
Realizado em 2012, o experimento focou especificamente na influência tóxica nos peixes da espécie Trachinotus Carolinus (Pampo), muito importante para o desenvolvimento da pesca no continente americano. Os peixes foram expostos ao dióxido de titânio, que entrou no organismo do Pampo através do contato epitelial e pelas brânquias. “O estudo da questão toxicológica das nanopartículas é muito recente no ambito mundial. Não se sabe o comportamento exato que elas vão ter. Dependendo do meio elas podem agir de diversas formas, se comportarem de maneiras distintas, causando danos ou não”, diz Caroline.
Quando se fala de avanços tecnológicos, umas áreas mais emblemáticas é a nanotecnologia, que lida com a manipulação atômica e molecular a fim de criar novas substâncias. Isso trouxe vários benefícios ao homem nos campos da saúde, alimentação, eletrônica, entre outros. O dióxido de titânio é extremamente comum e importante na produção de tintas e protetores solar. “Na Inglaterra encontraram a presença do TiO2 no ambiente aquático pelo escoamento. Ele é bastante utilizado na indústria por ser muito barato. A maioria dos filtros solares contém o dióxido de titânio”, lembra Caroline. Como o Pampo é um peixe que vive próximo ao litoral o risco de exposição é grande, apesar de ainda não haverem estudos nos oceanos.
Os desdobramentos da intoxicação podem ser diversos. Uma possibilidade é a citotoxicidade, na qual ocorre a destruição da célula penetrada. O grande risco da falta de monitoramento dos riscos dos nanomaterias, no entanto, é a dificuldade de se perceber um impacto mais gradual, como a genotoxicidade. Neste caso, ocorrem alterações no DNA que podem impactar a saúde dos peixes e afetar a fertilidade das gerações subseqüentes, a médio e longo prazo.
Mesmo que o peixe não chegue a ser afetado pela nanopartícula, os poucos estudos já realizados ao redor do mundo comprovaram que ela permanece alojada no organismo. Algumas espécies, como a truta, “armazenaram” o dióxido de titânio nos rins, fígados, pulmões e cérebro, sem grandes danos para a sua saúde. Caroline diz que o problema neste caso é que os peixes contaminados acabam transmitindo o TiO2 pela cadeia alimentar. “Um dos temas da pesquisa de doutorado que vou fazer é sobre a transferência trófica [através da alimentação]. Já foram feitos testes que comprovaram a passagem do dióxido de titânio numa cadeia alimentar de simples água doce e ele se confirmou tóxico”.
A pesquisa de Caroline Vignardi aponta para importância de se estudar as implicações deste tipo de intoxicação, como forma de proteger o meio ambiente, a indústria de nanotecnologia e a saúde humana. Ela atenta que, apesar das experiências não poderem ser realizadas com humanos, elas já foram feitas em mamíferos. “Trabalhos mostraram que a nanopartícula foi muito perigosa para ratos. Como eu disse, os resultados são variados, mas o TiO2 apresentou fototoxicidade. Isso é perigoso não só para os ratos, mas também para os peixes”. Parece irônico que algo tóxico na presença da luz esteja na composição de filtros solares.