As ondas são agentes importantes no ambiente marinho. Capaz de transportar sedimentos a alterar o terreno costeiro, o clima de ondas é um objeto relevante de estudo. Especialista em oceanografia geológica, Talitha de Souza Lourenço realizou uma pesquisa sobre as ondas no litoral sul e sudeste do Brasil, para entender melhor as influências delas na nossa costa.

Ela conta que a ideia inicial do trabalho foi desviada, pois o objetivo era trabalhar com alterações no clima, o que não foi possível observar nos dados disponíveis. “Como o curto período de 14 anos de resultados disponíveis não permitiu conclusões neste aspecto, mudamos o foco para a compreensão do clima de ondas e dos prováveis fenômenos que o controlam, e a consequência do clima nas praias”.

A praia de Massaguaçú, em São Paulo, foi um dos locais em que Talitha observou a ação direta das ondas. Por ser uma praia com pouca movimentação de sedimentos, uma alteração mínima no ângulo que as ondas atingem a costa, por exemplo, poderiam mudar radicalmente o ambiente de Massaguaçú. Este estudo serve como “evidência dos problemas que a alteração no clima de ondas pode causar em uma praia e também como base para trabalhos mais específicos e detalhados”.

No oceano e na região costeira, as ondas são causadas, majoritariamente, por dois fatores: ventos e tempestades. “As ondas geradas pelo vento são as mais comuns. Representam a maior parte das ondas que vemos numa praia. As ondas geradas por tempestades também são um tipo de onda gerada pelo vento, porém, são maiores e mais energéticas”, salienta Talitha.

O comportamento das ondas está intimamente ligado ao clima atmosférico. Em tempos de aquecimento global, alterações na atmosfera devem influenciar a dinâmica dos oceanos. Mudanças no clima de ondas podem resultar em impactos ambientais mais significativos do que, por exemplo, a elevação do nível do mar.

As ondas são responsáveis pela movimentação de sedimentos e causam transformações nas praias. No entanto, o processo de erosão não pode ser considerado apenas pelo estado da praia pós-tempestade. “Avaliando a praia um tempo depois de uma grande ressaca, em alguns casos ela volta a ser como era, o que caracteriza uma praia ainda em equilíbrio sedimentar”. Se a transformação não foi permanente, não ocorreu a erosão, pois, afirma Talitha, que “ela só acontece quando, mesmo com o passar do tempo, a praia não consegue atingir novamente seu perfil de equilíbrio, ou seja, o formato que ela tinha antes do evento”.

Fenômenos como tempestades, ciclones e furacões têm aumentado sua freqüência e isso se deve às alterações climáticas. Eles são exemplos de acontecimentos extremos que se relacionam com o clima de ondas. Alguns eventos, como o El Niño, ainda têm questões a serem respondidas. “Sobre o El Niño, ainda existem perguntas a serem respondidas e contradições a serem esclarecidas, tanto que este ainda é um fenômeno bastante estudado, e o trabalho deixa uma forte sugestão de que ele interfere no clima de ondas”.

Pelo fato de a maior parte da população mundial viver nas regiões costeiras, ou próximo a elas, compreender a dinâmica costeira também é importante para lidar com os efeitos das mudanças climáticas e, neste caso, somente um estudo temporal pode identificar as alterações e prever suas conseqüências.