São Paulo (AUN - USP) - Desenvolver em escala industrial medicamentos para hipertensão, dores crônicas e câncer com base na biodiversidade do país. Essa é a principal meta da parceria entre o Instituto Butantan e o Coinfar (Consórcio das Indústrias Farmacêuticas), a ser celebrada em evento no dia 31 de março, a partir das 12 horas, no Hyatt Hotel. A previsão é de investimentos de R$ 14 milhões de reais em projetos que já vem sendo desenvolvidos pelo órgão.
Os laboratórios nacionais Biosintética Farmacêutica, Biolab-Sanus e União Química, reunidos sob o nome Coinfar, aplicarão R$10 milhões no prosseguimento de estudos para fins terapêuticos envolvendo quatro moléculas já patenteadas pelo Butantan. Desse total, quatro milhões virão da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos, que capta recursos para pesquisas científicas a partir de fundos setoriais.
A Coinfar investiu R$ 4 milhões a partir de 2003 no desenvolvimento inicial da pesquisa, concentrados no Centro de Toxinologia Aplicada (CAT), um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) mantidos pela Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Desde então, foram registradas seis patentes de sintetização de moléculas, sendo três delas provenientes do veneno da jararaca e as demais do da cascavel, das cerdas da taturana Lonomia obliqua e da saliva do carrapato-estrela. As toxinas provenientes destas espécies estão sendo analisadas quanto às suas ações sobre a coagulação sangüínea, sistemas imunológico e cardiovascular e até mesmo tumores.
A partir de agora, o foco dos investimentos será direcionado aos testes práticos, inicialmente em animais, para em seguida serem realizados os estudos clínicos, isto é, em seres humanos. Depois desta etapa, caso seja comprovada a eficácia das substâncias, será possível fabricar medicamentos em escala industrial. Tanto o Instituto Butantan quanto a Fapesp terão direito a royalties sobre o faturamento da venda dos remédios, devido à patente da síntese de moléculas.
Participam do projeto mais de dez pesquisadores, além de diversos bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. O assessor de imprensa do Instituto, Tiago Oliveira, destaca que muitos deles estão “pela primeira vez envolvidos em um projeto de desenvolvimento tecnológico industrial”.
A iniciativa pode ser encarada como mais uma etapa da reestruturação pela qual o Butantan vem passando desde a década de 90. De acordo com a pesquisadora Júlia Baruque, a fim de garantir a manutenção das pesquisas com animais, em especial o tradicional setor de herpetologia, o Instituto passou a investir na produção de vacinas e soros em grande escala. Com isso, foi possível ampliar os laboratórios destinados a pesquisa e inovação e diversificar os estudos relacionados a substâncias provenientes da fauna nacional, gerando novas fontes de renda com as patentes. Desde a criação do CAT, as pesquisas originaram oito pedidos de patentes no Brasil e 13 no exterior.